Revolucionários, mesmo após a morte, seguem sendo um incômodo para a burguesia pelo legado que deixaram. Os capitalistas, invariavelmente, buscam atacar este legado com calúnias e falsificações.
Nosso camarada Roque Ferreira, vítima da Covid-19 em setembro do ano passado, dedicou toda sua vida à defesa dos interesses da classe trabalhadora, à construção de uma sociedade socialista, tanto em sua atuação como dirigente ferroviário, quanto como vereador eleito por dois mandatos na cidade. Nesta semana, vereadores de direita de Bauru partiram para uma tentativa de manchar a história e o legado do camarada Roque.
O vereador Guilherme Berriel (MDB) terminou sua fala na sessão da Câmara no dia 12/07 dizendo: “vereador Roque Ferreira ganhou o título de corretor do ano de 2009”. Isso após levantar que a compra pela cidade da Estação Ferroviária NOB (Noroeste Brasil) estaria acima do valor de mercado, baseando-se em notícia da rádio Jovem Pan local. Ele foi apoiado pela vereadora Chiara Ranieri (DEM) e pelo vereador Eduardo Borgo (PSL). Esse último, aliás, propôs conceder o título de “Cidadão Bauruense” a Jair Bolsonaro.
Distorções e mentiras rondam esta tentativa de envolver o camarada Roque na compra de um imóvel supostamente superfaturado. Em primeiro lugar, o apresentador da rádio Jovem Pan (rádio que tem se especializado em ser veículo do bolsonarismo), Alexandre Pittolli, diz que a estação “valia R$ 4 milhões, um comprador queria dar R$ 2 (milhões) e o Rodrigo (prefeito na época) pagou 6 (milhões)”.
O fato é que esse edifício é um prédio histórico no centro da cidade, estação ferroviária desativada como tantas outras no país, fruto do processo de privatização e desmonte do transporte ferroviário de passageiros. Em estilo art déco, com 3 andares, o prédio foi inaugurado em 1939. No início de 2006, foi avaliado em R$ 4 milhões, porém, na data da compra (2009), a própria Caixa Econômica Federal, considerando a valorização do imóvel, avaliou o edifício em R$ 6,3 milhões, valor cobrado pelo Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e pago em quatro parcelas pelo poder público, sendo R$ 1.650.000,00 em dezembro de 2009, R$ 3.500.000,00 em abril de 2010, R$ 575.000,00 em abril de 2011 e R$ 575.000,00 em abril de 2012.
O edifício estava penhorado em favor de 4.200 ferroviários devido a uma ação trabalhista contra a proprietária da estação, a Rede Ferroviária Federal, por isso a negociação de venda do imóvel foi realizada pelo sindicato da categoria. O projeto de compra previa a mudança da Prefeitura e da Câmara de Vereadores (instaladas em imóveis alugados) para a antiga estação, com restauração do patrimônio e criação de espaços culturais e educativos.
O mandato do camarada Roque votou a favor da compra da estação pelo município e o fato é que não existe nenhuma prova ou mesmo processo em curso que levante qualquer ilegalidade nessa aquisição.
O camarada Roque, aliás, como socialista, foi um opositor do então prefeito Rodrigo Agostinho, então do PMDB, curiosamente o mesmo partido do vereador que atacou Roque na última segunda-feira.
O assunto da estação voltou à tona na cidade pela recente lacração do prédio em razão de riscos aos frequentadores, diante de sua má conservação nos últimos anos. Diferentes governos que passaram pela cidade, cedendo a pressões de setores do mercado imobiliário, não investiram na restauração do edifício. O camarada Roque sempre defendeu a preservação do patrimônio histórico da estação e sua utilização para atividades educativas e culturais pela população.
O legado do camarada Roque segue vivo na luta da classe trabalhadora e da juventude para pôr abaixo o governo Bolsonaro e pela construção de um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais. Roque, como marxista, fez inúmeros sacrifícios pessoais em nome da luta da classe trabalhadora, prezando nesse combate pela independência financeira em relação à burguesia e seu Estado. Seguimos o combate de Roque e defenderemos sua memória e seu legado contra todos os ataques por parte da burguesia.
Trecho da fala do vereador Guilherme Berriel na sessão da Câmara de Bauru em 12/07/2021 contra o camarada Roque:
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Abaixo, reproduzimos a nota do Diretório Municipal do PSOL Bauru sobre o caso:
NOTA PÚBLICA DO PSOL-BAURU
NAS REDES, NAS RUAS E NAS LUTAS DEFENDENDO O LEGADO E A MEMÓRIA DO COMPANHEIRO ROQUE FERREIRA
Movidos tanto pela ignorância dos fatos quanto pela má fé dos atos, os vereadores Eduardo Borgo e Guilherme Berriel, na sessão legislativa do dia 12 de julho do corrente ano, se referiram de modo calunioso e desrespeitoso ao ex-vereador Roque Ferreira, utilizando para tão sórdido expediente a recente lacração do Prédio da Estação Ferroviária da NOB, adquirida pelo Município de Bauru em 2010.
As falas dos vereadores foram motivadas pela matéria veiculada na rádio Jovem Pan pelo jornalista Alexandre Pittolli, que após entrevista com o promotor de Urbanismo do Ministério Público, Dr. Henrique Veronez, encerra o programa insinuando de forma leviana a suspeição do processo de compra do prédio. Em sua fala, o jornalista diz que “o prédio valia quatro milhões, um comprador queria dar dois e a prefeitura pagou seis (…) nós sabemos os motivos” (sic).
É assim que nascem os boatos e as fake News, tão utilizadas pelo bolsonarismo e sua tropa de asseclas puxa-sacos. Alexandre Pittolli envergonha todos os que portam diploma de jornalista, uma profissão que deve ter compromisso com as bases sólidas da verdade e não com os pés de barro da mentira.
A VERDADE DE VOLTA AOS TRILHOS
Embora o péssimo jornalista Alexandre Pittolli não diz em sua fala, o prédio da estação e todo seu entorno, compreendendo um total de 13 mil metros quadrados, valia quatro milhões no início de 2006. Com as atualizações e correções, chegou-se no final de 2009 ao valor de R$ 6,3 milhões, conforme avaliação realizada pela Caixa Econômica Federal. A prefeitura então o adquiriu mediante pagamento de três parcelas (uma de 3,5 milhões em 2010 e duas de 1,4 milhão sendo uma paga em 2011 e a outra em 2012). Omitir essas informações, estas balizas temporais, estes valores e suas atualizações é uma afronta ao bom jornalismo. Lembremo-nos que uma meia verdade equivale à uma mentira inteira. Lembremo-nos também que o processo foi aprovado e considerado legal pelos órgãos de fiscalização e pelas próprias Comissões da Câmara Municipal.
No embalo do mal jornalismo de Pittolli, o vereador Guilherme Berriel reproduziu a ilação de que o prédio valia 4 milhões e foram pagos 6 milhões, reforçando a inverdade diante dos que ouviam a sua fala, criando a falsa narrativa de negócios suspeitos durante o processo de compra.
Não obstante a enxurrada de falsificações, o vereador diz que Roque ganhou o título de “Corretor do Ano de 2009”, numa esdrúxula comparação entre uma simples venda comercial de um imóvel com o esforço empreendido por Roque em preservar o patrimônio histórico, o interesse público, a revitalização do espaço urbano e a garantia de direitos trabalhistas.
O PRÉDIO DA ESTAÇÃO
Em um aparte à fala do vereador Guilherme Berriel, a vereadora Chiara Ranieri chegou ao cúmulo da resolução simplista em dizer que os prédios das estações ferroviárias em outras cidades do país foram dados de graça para suas prefeituras e Bauru teve que comprar a estação, mais uma vez levantando a suspeição sobre o processo. Ora, ora, vereadores! Uma breve pesquisa nos registros históricos evitaria uma fala tão ridícula. O prédio da estação ferroviária da NOB jamais poderia ser doado pela Secretaria de Patrimônio da União pelo fato de o mesmo ter sido empenhorado para quitar dívidas trabalhistas que a Rede Ferroviária Federal tinha com 4.200 trabalhadores ferroviários.
A privatização das ferrovias na década de 1990 levou ao processo de liquidação da RFFSA e como todos sabem (menos os vereadores) uma empresa em processo de liquidação não tem fontes de receita e para saldar dívidas, deve dispor de seu patrimônio. Foi assim que o imóvel foi dado como garantia de quitação da dívida trabalhista. Assim, o único modo da estação vir para as mãos do poder público municipal era por meio de um processo de compra e não por doação (como por exemplo foi o caso do prédio da estação da paulista, onde seria o Museu da Imagem e do Som de Bauru, o prédio da SEBES que outrora funcionava a Escolinha da RFFSA, o prédio da SEMMA onde funcionava o setor administrativo das Oficinas Gerais da NOB, só para citar alguns exemplos).
Tanto Alexandre Pittolli, quanto os vereadores Guilherme Berriel e Eduardo Borgo, em suas falas deixam a entender para os desavisados que o prédio está caindo, ou como disse o mal jornalista da Jovem Pan “… em estado de putrefação.” (sic), talvez ele não tenha entendido o que o próprio promotor Dr. Veronez havia dito minutos antes na entrevista, que os problemas do prédio são pontuais e não estruturais. Por se tratar de uma construção feita em concreto armado, a primeira do tipo na cidade de Bauru e realizada em estilo art decó, esta estrutura arquitetônica não está em estágio de ruína e nem em ponto de colapso.
A VISIONÁRIA PROPOSTA DE ROQUE FERREIRA
O companheiro Roque sempre esteve a frente de seu tempo, pois enxergava a cidade com os olhos de quem está assentado sobre ombros de gigantes. Sempre empregando o método científico para compreender a dinâmica da sociedade, isto é, o materialismo histórico e dialético, Roque, militante da Esquerda Marxista (grupo político comunista inicialmente integrando o PT, e depois no PSOL) com sua rede de apoio do Mandato Operário e Popular (formado por trabalhadores, estudantes, professores, ferroviários, advogados, associação de moradores, etc) juntamente com a diretoria combativa e participativa do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, tiveram a genial ideia de combinar a revitalização do centro da cidade, a recuperação de um patrimônio histórico, a quitação da dívida trabalhista e a solução para o dilema dos aluguéis da prefeitura devido a falta de próprios municipais em um único projeto multifacetado. Roque defendia que era o poder público, por meio do Executivo municipal, que deveria empreender a Reforma Urbana de Bauru, envolvendo inclusive a revisão de todo sistema de transporte público e o aproveitamento da malha ferroviária, que corta a cidade em seus eixos Leste-Oeste e parte do Sul além de ações jurídico e urbanísticas previstas no Estatuto das Cidades, com o objetivo de combater a segregação geográfica tão gritante em Bauru, onde vemos uma Zona Sul rica em detrimento das demais regiões pobres e sem infraestrutura adequada para seus moradores.
A aquisição da Estação foi muito bem recebida por importantes historiadores da cidade e defensores do patrimônio ferroviário. A compra do prédio poderia levar a cabo as demandas cidadãs mais urgentes da cidade, uma vez que as mais modernas e humanizadas concepções de urbanização defendem a revitalização dos centros históricos das cidades como modo de combinar preservação do patrimônio, segurança e democratização dos espaços. A estação abrigaria serviços públicos centralizados, evitando o deslocamento das pessoas para regiões distantes da cidade, uma vez que todas as linhas de ônibus passam pelo centro. A prefeitura, por sua vez, deixaria de pagar aluguéis para abrigar secretarias e departamentos, dispondo do prédio para esta função. O prédio, restaurado e requalificado, voltaria a ter uma função pública ao servir a população bauruense, como o fizera desde sua inauguração em 1939 até o ano 2000, quando foi fechado. Os trabalhadores ferroviários que tinham parte da ação trabalhista e há mais de uma década esperando resolução da contenda, receberiam seus valores que em último caso, representaria uma injeção de milhões de reais na economia bauruense, uma vez que centenas de ferroviários ou seus herdeiros legais, integravam a ação.
Roque entendia e denunciava que a especulação imobiliária de Bauru era o principal entrave para a revitalização do centro e a recuperação do prédio da Estação e infelizmente o poder de pressão deste setor sobre os poderes locais é evidente. É este setor que dá louvas a grandes empreendimentos de alto impacto agressivo à harmonia da cidade e expulsa cada vez mais as populações para as periferias sem infraestrutura. Foi justamente um representante do setor imobiliário, o então vereador Marcelo Borges (PSDB) que cunhou o termo de “Corretor do Ano de 2009” para Roque.
A situação de abandono que chegou o prédio é resultado da ação dessas forças atrasadas que controlam os destinos da cidade. Enquanto foi vereador, Roque combateu o bom combate e apoiou a ocupação das salas da Estação por entidades culturais e artísticas da cidade ao mesmo tempo que cobrava da prefeitura ações de maior peso para a recuperação definitiva do prédio, com o uso de seus pavimentos inferiores para atividades lúdicas, recreativas, culturais e artísticas e seus pavimentos superiores para as instalações de secretarias e departamentos.
Portanto, homens de pouca estatura política como Guilherme Berriel e Eduardo Borgo deveriam respeitar a história de longa data de gigantes como Roque Ferreira, que sempre defendeu um modelo de desenvolvimento econômico soberano para este país, principalmente tendo o povo trabalhador no controle democrático dos destinos econômicos e políticos do Brasil, ao contrário dos dois vereadores, que defendem um presidente covarde e vendilhão da pátria, que todos os dias entrega a olhos vistos as riquezas e as estatais deste país a preço de banana para os conglomerados financistas internacionais.
Roque, presente hoje e sempre!
Bauru, 13 de julho de 2021
Diretório Municipal do PSOL Bauru