A segunda onda da pandemia na Europa revela números trágicos. Na última terça-feira (24/11), a Espanha registrou 537 novas mortes, o Reino Unido 608 e a Itália 853 novas vítimas, o maior número de óbitos desde 31 de março no país. UTIs estão lotadas e os governos retomam medidas de restrição de circulação. Também nos EUA, o número de internações por Covid-19 bateu recorde nessa semana, o número de mortes em 24 de novembro chegou a 2.216 em um dia. A responsabilidade total por esta nova onda é dos capitalistas e seus governos, que flexibilizaram apressadamente medidas de distanciamento para salvar a economia (leia-se, salvar os lucros da burguesia) e não adotaram medidas efetivas para conter um novo surto (testagem em massa, isolamento dos infectados, equipamentos de segurança para os trabalhadores etc.).
No Brasil, o número de casos e mortos, apesar de ter diminuído nos meses anteriores, sempre se manteve em patamares altos. Agora, os números voltam a crescer. Segundo os dados divulgados em 24 de novembro pela imprensa, 638 mortes ocorreram nas últimas 24 horas, com a média móvel de 491 mortes por dia nos últimos sete dias. No Rio de Janeiro já faltam leitos de UTI, segundo reportagem do G1, nessa quarta-feira (25/11), 86 pacientes precisavam de leito de UTI e só havia 37 disponíveis.
A imprensa busca jogar a culpa na população, mostrando imagens de aglomerações e reprovando a irresponsabilidade dos presentes. Com isso, esconde a responsabilidade dos governantes, que flexibilizaram o distanciamento, reabriram shoppings, bares, restaurantes, cinemas, retomaram ou buscam retomar as aulas presenciais nas escolas, sendo que mesmo setores não essenciais, principalmente da indústria, nunca deixaram de funcionar mesmo no pico da pandemia no primeiro semestre. Ao não garantir condições de subsistência para trabalhadores e pequenos comerciantes, o próprio sistema forçou o rompimento da quarentena. Ao liberar praticamente tudo, o recado que estes governantes passaram para a população é de que a pandemia estaria superada. Não está e não estará até que uma vacina eficaz e segura seja aplicada na maior parte da população.
A própria questão da busca pela vacina tornou-se uma disputa comercial entre grandes indústrias farmacêuticas, entrando também na disputa política, como vimos localmente nos conflitos entre Dória e Bolsonaro sobre a vacina chinesa CoronaVac.
O que se ressalta com toda esta crise é a falência do próprio sistema capitalista. Catástrofes como essa, assim como as grandes guerras e crises econômicas, provocam saltos na consciência de classe, desencadeando lutas e revoluções. Nesse ano estamos vendo, mesmo com a pandemia, uma série de lutas de massas (EUA, Bielorrússia, Colômbia, Chile, Polônia, Peru, Guatemala etc.).
Na primeira onda, no primeiro semestre, governos de diferentes países injetaram dinheiro na economia, inclusive com auxílios aos trabalhadores, para impedir o colapso econômico total e uma convulsão social. No entanto, isso elevou ainda mais as dívidas dos países e há ainda menos margem de manobra para os governantes enfrentarem os efeitos econômicos da segunda onda. No Brasil, o auxílio emergencial, que Bolsonaro queria que fosse de R$ 200 e o Congresso aprovou R$ 600 por mês, teve o valor reduzido em setembro para R$ 300 e só deve durar até o fim do ano. A dívida pública brasileira deve ultrapassar 100% do PIB em 2020, o que torna inviável grandes injeções de dinheiro público na economia. Por isso, também, a necessidade de mais austeridade e cortes, o envio de um orçamento para 2021 com a redução de verbas para saúde, educação e ciência. O combate a este orçamento e ao retorno das aulas presenciais sem vacina é pauta central dos encontros regionais da juventude por Fora Bolsonaro que a Liberdade e Luta está organizando.
O capitalismo está conduzindo a humanidade à barbárie. A decadência desta sociedade torna-se evidente com o aumento dos casos de violência contra a mulher e os casos de racismo, em especial por parte do aparato repressivo estatal.
Há um ódio crescente ao governo Bolsonaro e o resultado das eleições municipais deste ano demonstrou isso, com a derrota de candidatos bolsonaristas nos principais centros políticos e econômicos do país. Também o PT caiu no número de candidatos eleitos, em especial nas cidades com grandes concentrações do proletariado, e isso foi fruto das seguidas traições à classe trabalhadora. Sobre isso, leia o balanço eleitoral da EM.
O resultado eleitoral do PSOL, com avanços, chegando ao segundo turno em São Paulo, é a própria demonstração de que a base da sociedade está aberta por saídas à esquerda. Porém, a direção do PSOL é mais conservadora do que sua própria base. Não lançou candidatos em diferentes cidades por escolher fazer alianças com PT e PCdoB. Fechou alianças inclusive com partidos burgueses, como Rede, PDT e PV. Agora, no segundo turno em São Paulo, uma frente democrática é formada com a participação de Rede e PDT. Boulos faz reuniões com empresários, modera o discurso e diz que não irá demonizar o setor privado. Nós chamamos o voto em Boulos, nos candidatos do PSOL e também do PT e PCdoB neste segundo turno como um voto de classe para derrotar os candidatos da burguesia. Mas não apoiamos os programas reformistas e a conciliação de classes, que só podem levar à traição dos trabalhadores após eleitos. A história nos mostra isso.
Independente das eleições, a crise econômica e política avança. A revolta das massas se aprofunda, mesmo que falte a consciência da necessidade e viabilidade de derrubar o capitalismo e tomar o poder. Isso é responsabilidade total das direções traidoras, que desorganizaram e deseducaram o proletariado. Na luta contra os ataques, pelas reivindicações imediatas e históricas, a classe trabalhadora terá que forjar uma nova direção da classe, verdadeiramente revolucionária e socialista. Este é o combate da Esquerda Marxista e da Corrente Marxista Internacional, no Brasil e no mundo.