No dia 21/7, terça-feira, a Fábrica da Renault, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, anunciou a demissão de 747 trabalhadores. As demissões em massa da fabricante ocorrem dias depois de a Nissan, montadora associada da Renault, também anunciar a demissão em massa de 398 empregados. Ao todo, são 1145 postos de trabalho extintos nos últimos dias no setor automobilístico e industrial do Paraná.
“Esta medida” – segundo a empresa – “também está alinhada com o projeto de redução de custos anunciado pelo Grupo Renault em maio, válido para todo o mundo“. A empresa também anunciou um projeto de reestruturação de planta, onde seu capital constante (novas plantas industriais e maquinários) deverá ser privilegiado e ampliado em relação e comparação ao seu capital relativo (força de trabalho e folha de pagamento).
A Renault de São José dos Pinhas também alegou queda nas vendas e por isso deu fim ao 3º turno de produção na Fábrica. Inicialmente, concedeu férias coletivas aos funcionários, em seguida procurou se apoiar na atual lei 14.020 para redução temporária de salários e jornadas em 25%, além de demissões voluntárias. Agora, a empresa anuncia que, devido a intransigência dos trabalhadores em não aceitar seu “new deal”, não lhe resta outra alternativa a não ser a demissão em massa. Os trabalhadores metalúrgicos de São José dos Pinhais, em uma postura correta e de solidariedade de classe, rapidamente responderam com mobilização e greve em defesa dos empregos e postos de trabalho.
O fato é que crises agudas do capital, tal como a que presenciamos hoje, ainda mais potencializadas pelos reflexos da pandemia do coronavírus, tornarão demissões em massa algo corriqueiro e cada vez mais frequentes, assim como provocarão a falência de milhares de empresas. Os empresários atribuirão a culpa da crise ao vírus, mas jamais ao modo capitalista de produção, que para eles “funciona”, é “perfeito” e “sagrado”. Somente uma ação decidida e revolucionária das direções dos trabalhadores pode pôr um fim à onda de demissões e impedir que a crise recaia inteiramente sobre os ombros da classe trabalhadora. Mais do que nunca, situações como essas colocam em dia a necessidade de uma direção revolucionária decidida e da aplicação de um programa de reinvindicações transitórias.
Um programa de reivindicações transitórias, como bem descreve Trotsky em seu célebre Programa de Transição (1938), deve organizar os trabalhadores em torno de suas pautas mínimas (econômicas), porém sempre amarradas e atreladas a uma pauta máxima (política), ou seja, da revolução social, de modo a colocar os meios de produção, fábricas e o Estado sob o controle direto da classe trabalhadora, do proletariado. Caso contrário, os trabalhadores continuarão a colecionar sempre derrotas e, em alguns casos, no máximo vitórias parciais.
Para tanto, é preciso superar a crise de direção vivida pelo proletariado. Os sindicatos e seus dirigentes “sociais-burocratas”, viciados por décadas de colaboração de classes e adaptação à estrutura sindical vigente, impedem que uma luta radical, que possa resolver os problemas da classe trabalhadora de um modo definitivo, se desenvolva. Na Renault, o sindicato é dirigido pela Força Sindical, uma central que segue a mesma cartilha das demais centrais sindicais: burocracia, reformismo e conciliação com os patrões.
A superação deste bloqueio burocrático passa pela organização direta da classe trabalhadora em seu local de trabalho (os Comitês de Fábricas), para um enfrentamento direto contra o capital e seus administradores, diretores e chefes de empresas, assim como muitos diretores e “chefes sindicais”, popularmente conhecidos entre os operários como pelegos.
Tanto os operários e trabalhadores da Renault, Nissan, Mistusbish, como todos os trabalhadores que já enfrentaram, enfrentam e enfrentarão demissões em massa e, no “melhor dos casos”, redução de salário e aumento da jornada e intensidade do trabalho em caso de manutenção do emprego, devem pressionar suas direções sindicais para levarem uma luta sem trégua, de forma consciente e decidida, até a vitória. Neste sentido, o programa de reinvindicações transitórias que deve ser levantado e agitado pelos trabalhadores e, sobretudo, pela direção sindical, neste exato momento na Renault de São José dos Pinhais e em todas as empresas que ameaçam jogar os trabalhadores no desemprego e na carestia de vida, deve ser:
- Não às demissões! Em defesa do direito ao trabalho e aos postos de trabalho!
- Redução da jornada de trabalho sem redução de salários!
- Abertura imediata da contabilidade da empresa! Que se abram os livros!
Tal luta, no entanto, só pode avançar ou ser vitoriosa tendo este programa de reinvindicações agitado em fábrica sob ocupação. Neste sentido, é necessário que as direções sindicais operárias organizem, paralelo ao COMITÊ DE GREVE, os COMITÊS DE FÁBRICA e a ocupação das empresas que estão efetivando demissões em massa, sobretudo daquelas que alegam “falência”, o que não é o caso da Renault. As direções sindicais, provavelmente e inevitavelmente, irão se opor a criação dos Comitês de Fábrica. Os operários devem, pela pressão, exigir a sua organização, participando diretamente deles. No caso dos trabalhadores da Renault, cujo sindicato se encontra sob o comando da Força Sindical, não se pode esperar muita coisa a não ser traição e desmobilização. Por isso, a única saída dos trabalhadores, além da pressão sobre as lideranças sindicais, é de tomarem seu destino em suas mãos.
A greve com ocupação colocará em prática a questão de saber quem de fato produz a riqueza e quem, por isso mesmo, deve ser dono da fábrica: os capitalistas ou os trabalhadores. Só assim os trabalhadores colocarão em cheque o “direito divino dos capitalistas” sobre o controle da força de trabalho, dos meios de produção e subsistência.
A Esquerda Marxista se solidariza com a luta dos trabalhadores da Renault, Nissan e demais montadoras, e se coloca à disposição para contribuir no que for possível para o movimento grevista em andamento e para os que virão.
- Não às demissões na Renault e demais montadoras!
- Contra o desemprego! Direito ao trabalho!
- Não ao arrocho salarial!
- Pela revogação da Lei 14.020/2020, antiga MP 936!
- Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!