Na última segunda-feira (15/02), trabalhadores da MABE decidiram, em assembleia organizada pelo Sindicato de Metalúrgicos de Campinas, ocupar as plantas localizadas em Campinas e Hortolândia. No total, são quase dois mil trabalhadores afetados pelo pedido de falência da empresa.
Na última segunda-feira (15/02), trabalhadores da MABE decidiram, em assembleia organizada pelo Sindicato de Metalúrgicos de Campinas, ocupar as plantas localizadas em Campinas e Hortolândia. No total, são quase dois mil trabalhadores afetados pelo pedido de falência da empresa.
A história é sempre a mesma. Conhecemos bem. Querem que os trabalhadores paguem pela crise, ou, como é no caso concreto, que os trabalhadores paguem a conta pela chamada “reestruturação produtiva”, modificando o patrimônio, fazendo todas as alterações e fraudes dos empresários, “sujando” um CNPJ e “recomeçando” outra empresa “limpinha”. Aproveitam neste processo para atacar direitos, não pagar impostos e prejudicar a vida de milhares de pais e mães de família. Assim foi na Flaskô e nas mais de 35 fábricas que o Movimento das Fábricas Ocupadas atuou em todo o Brasil desde 2002, e que se verifica em todo o mundo.
Ao longo dos últimos dois anos e meio, a MABE vem fazendo esta articulação, utilizando-se de ferramentas jurídicas, como a própria lei de recuperação judicial, até que, depois de “limpar” tudo que queriam, preparam seu golpe final. Atacam frontalmente os direitos trabalhistas e decretam a falência.
No fim do ano passado, a MABE atrasou salários, 13º, cesta básica, demitiu centenas de trabalhadores, dentre eles vários lesionados pelo intenso ritmo de produção, e não pagou as verbas rescisórias dos demitidos. Neste cenário, os trabalhadores tinham montado um acampamento na frente das plantas para impedir a saída do maquinário.
Todos sabem que nos últimos anos, a MABE enviou centenas de milhões de dólares de lucro para exterior, implementou sua “reorganização” e agora quer fazer com que os trabalhadores paguem por suas decisões.
Saudamos a ocupação da fábrica pelos trabalhadores e nos colocamos lado a lado do conjunto da classe trabalhadora. A greve com ocupação é um instrumento legítimo, que contribui para o processo de consciência de classe. Não somente mostramos aos patrões que eles nada fazem sem a força de trabalho, mostramos que a posse e a propriedade são questionáveis. Por isso, lutamos pela expropriação dos meios de produção.
Sabemos que a luta de classes se dá pelas condições objetivas e materiais. Cada passo é um avanço. Como ação política e de pressão, a ocupação contribui para chamar a atenção do funcionamento da lógica capitalista e das práticas patronais, e a sempre conivência do legislativo e do Judiciário.
Os trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô prestam sua solidariedade aos trabalhadores da MABE, sabendo que a ocupação deve ser feita para garantir os postos de trabalho e a continuidade da atividade produtiva, com o pagamento dos direitos trabalhistas. É a ocupação que pode garantir o principal direito trabalhista – o direito ao trabalho.
Como bastião da resistência do Movimento das Fábricas Ocupadas, atuamos desde 2002, em mais de 35 fábricas, contribuindo pela perspectiva política de praticar o lema “Fábrica quebrada é fábrica ocupada! Fábrica ocupada deve ser ser estatizada!”. Justamente por isso, provocamos reflexões: Se conseguimos ocupar uma fábrica, retomar a produção, por que precisamos de patrões? E se fazemos isso nas fábricas, porque não podemos fazer em toda a sociedade? Se não precisamos de patrões nas fábricas, por que precisamos de uma classe patronal em toda a sociedade? E este Estado, serve a quem? Quem é o que desrespeita a lei: o trabalhador que ocupa a fábrica para garantir seus direitos ou os patrões que sonegaram milhões de dívidas e direitos trabalhistas?
É por isso que esta perspectiva de luta, com as ocupações de fábricas, provoca tanta aversão de vários setores do sindicalismo acomodado, e tanto ódio de classe da burguesia. O dedo é na ferida. Por isso, o Juiz nomeando um interventor para afastar o controle operário na fábrica Cipla, em Joinville/SC, diz que tem que tomar esta atitude pois senão: “Imagine se a moda pega?”
Por tudo isso, estaremos junto aos trabalhadores da MABE, para que a ocupação seja vitoriosa, denunciando as contradições dos patrões e do Estado/Judiciário, que garanta a defesa dos postos de trabalho e a continuidade da atividade produtiva, revertendo esta falência criada pelos capitalistas, garantindo o pagamento dos direitos e impostos (direitos indiretos – políticas públicas de saúde, educação, moradia, transporte, etc.).
Como trabalhadores, assim como os da MABE, não queremos ser patrões e não caímos nesta história de empreendedorismo e de um cooperativismo que reproduz a lógica capitalista. Somos contra a propriedade privada dos meios de produção. Lutamos pela sua contínua expropriação. Lutamos para que a propriedade seja pública, coletiva, de todos, apropriada pela classe trabalhadora e pela juventude, para que todos usufruam da fábrica, como fizemos na Flaskô, com a ocupação do terreno e a criação da Vila Operária, com 564 famílias hoje lá residindo, e com a Fábrica de Cultura, Educação e Esporte, com dezenas de atividade nos galpões abandonados, que envolvem mais de 400 pessoas, especialmente jovens.
Lutamos como parte da classe trabalhadora. Por isso, reduzimos a jornada de trabalho sem redução de salários, para 30 horas semanais. Por isso, conseguimos acabar com acidentes de trabalho e nos permitir um novo ritmo de trabalho, sob outra lógica e prioridades. Por isso, tomamos nossas decisões em assembleias e elegemos um conselho de fábrica, com representantes de todos os turnos e setores, para que a verdadeira democracia e o controle operário prevaleçam.
Estivemos presentes na Ocupação prestando nossa solidariedade com uma comissão do Conselho de Fábrica. Conversamos com os trabalhadores e os representantes do Sindicato. Ouvimos atentamente a situação em que se encontram e o que se pretende fazer. Parabenizamos o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas pelos passos dados e contamos um pouco sobre nossa história e como pode vir a ajudar nos passos que podem ser dados. Distribuímos nossa cartilha e vários livros que apresentam a perspectiva de luta do Movimento das Fábricas Ocupadas e a resistência da Flaskô.
Esperamos, sinceramente, que este processo garanta vitórias estratégicas, para além dos passos táticos, colocando uma perspectiva clara do que fazer no momento de fechamento das fábricas. Que esta luta dos trabalhadores da MABE sinalize ao conjunto da classe trabalhadora o que pode e deve ser feito! Estaremos lado a lado!
Todo apoio aos trabalhadores da MABE!
Toda Solidariedade dos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô!
Contra o fechamento da MABE! Contra a farsa da falência judicial!
Nenhuma demissão! Pagamento imediato dos direitos devidos!
Pela estatização da MABE, sob controle operário!