A passagem de ano de 2020 para 2021 trouxe a mudança na gestão da Prefeitura do Rio de Janeiro, mas pouco ou nada mudou em relação à situação de controle da pandemia e à melhoria das condições do transporte público. Este é um grande vetor de propagação da Covid-19, que atinge a classe trabalhadora, dependente de trens, metrôs, ônibus, ônibus articulados (BRTs) e barcas, superlotados, onde é impossível manter distanciamento social. Ainda há ônibus e BRTs que circulam, lotados e de janelas fechadas, ampliando o risco de o vírus se alastrar1.
Considerando o alto número de mortes no Rio, a medida que deveria ser sumariamente decretada é o lockdown, mas o novo prefeito, Eduardo Paes, já se manifestou sobre e descartou essa possibilidade: “Não há um lockdown e não há previsão de haver”2. Chegou ao cúmulo de dizer que:
“Vamos falar a realidade. Impossível você imaginar que no transporte coletivo vai ter distanciamento social de 2 metros, de 1,5 metro. Não vai acontecer […] O que a gente precisa é de alguns cuidados (…), usar máscara o tempo todo, evitar conversar, evitar comer, porque você tira a máscara, obviamente, num espaço que vai ter sempre algum grau de aproximação. Óbvio que a gente está fazendo esse esforço, mas não tem milagre”. 2
Essa fala demonstra a lógica que a burguesia e o seu Estado têm. Eles culpam e responsabilizam os trabalhadores, enquanto os serviços não essenciais seguem, tudo em busca do lucro; e a classe trabalhadora fica exposta à contaminação de si e das pessoas com quem convive. Essa omissão – aliás, a palavra mais apropriada é escolha – do Estado em não decretar o fechamento total e a paralisação de serviços não essenciais, tem um efeito assassino, ainda mais se relacionarmos com a situação decrépita da saúde pública do Rio, cada vez mais sucateada pela própria Administração Pública, entregue às Organizações Sociais – OSs.
As gestões públicas cedem às pressões do empresariado e os trabalhadores são tratados como se suas vidas valessem menos ou nada; e, de fato, na ótica do sistema capitalista, essa afirmação é verdadeira. Não importa que essas vidas se percam, apesar de elas produzirem a riqueza social, que é apropriada pela burguesia, ao passo que a pobreza aumenta e pioram as condições de vida dos produtores da riqueza: os trabalhadores.
Somado a esse cenário, os trabalhadores ainda sofrem com a drástica diminuição e até mesmo o desaparecimento total de linhas de ônibus comuns e/ou dos articulados, notadamente na Zona Oeste da cidade. Isso implica em mais aglomerações, aumento da taxa de transmissão da Covid-19, tempo de espera do trabalhador. As empresas e os consórcios responsabilizam a crise financeira e a perda de recursos por conta da pandemia3. Enquanto isso, a classe trabalhadora sofre, se expõe, perde tempo de sua vida e paga caro por um serviço mal prestado, que está para ser reajustado4! A fala de uma trabalhadora retrata essa realidade da longa espera:
“Não fico menos de uma hora nessa fila. Quando estou vindo, é pior. Isso quando não passam direto do ponto.5
“Esqueceram que Campo Grande existe. Chego a ficar duas horas esperando um ônibus, sempre demora. O bairro é ótimo para outras coisas, mas o transporte é horrível.”5
Sendo assim, na lógica do lucro como prioridade sobre a vida dos trabalhadores, é fácil entender que os ônibus superlotados garantem um lucro maior para o empresariado. Afinal de contas, com mais ônibus circulando, as pessoas viajariam sentadas, com certo distanciamento, o que reduziria a transmissão da Covid no transporte público. Porém, a lógica foi retirar ônibus de circulação, o que implicou superlotação e inviabilizou o distanciamento, isso num momento em que se anuncia a suspensão da vacinação contra o coronavírus.
Para trabalhadores que moram em bairros em que os ônibus não chegam e/ou são mais escassos, a alternativa, para não ir a pé, é o transporte alternativo – o que implica gasto adicional para o trabalhador. Em algumas regiões, como a Baixada Fluminense e Zona Oeste, o transporte alternativo é dominado pela milícia, seja com Kombi, van ou até carro de passeio. A fala a seguir, mostra isso:
“Os ônibus me deixam muito longe de casa, então tenho que pegar uma van”5
Tais falas confirmam a pesquisa feita pelo aplicativo de mobilidade Moovit6 de que 11% dos moradores do Rio de Janeiro perdem mais de duas horas nos trajetos. As falas acima retratam que, além do trajeto, ainda há o acréscimo da espera por um serviço público essencial, mal gerido, caro, cujas empresas e consórcios são subsidiados com verbas públicas – fruto da classe trabalhadora –, mas os trabalhadores em nada se beneficiam.
Por isso, como as empresas já se demostram, com a mais límpida clareza, que são incapazes de ofertar um transporte coletivo de qualidade, defendemos que haja a estatização; e não apenas isso, mas que a estatização seja sob controle da classe trabalhadora. Repito, as empresas se mostram incapazes e o Estado, comitê da burguesia, é quem sucateia o transporte público e pouco ou nada faz para melhorá-lo. Faz dele fonte de lucro para a burguesia e, para a classe trabalhadora, de tortura e – em tempos de Covid – até de morte.
Está cada vez mais claro que os trabalhadores somente podem contar consigo mesmos. Portanto, organize-se!
Conheça e faça parte da Esquerda Marxista!
Junte-se a nós na luta pelo socialismo.
- Pela estatização do transporte público sob controle dos trabalhadores!
- Paralisação imediata de serviços não essenciais!
- Basta de o transporte público ser vetor de contaminação da Covid!
- Abaixo o governo Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!