Uma frente única de caluniadores!

Como a Corrente O Trabalho lambertista se une à Revista Veja, FIESP, ABIPLAST, interventor e governo para atacar e caluniar o Movimento das Fábricas Ocupadas e a Esquerda Marxista

Uma resposta indesejada, mas necessária

Os companheiros que têm acompanhado o combate do Movimento das Fábricas Ocupadas e da Esquerda Marxista têm sido testemunha dos graves ataques que temos sofrido.

Desde 31 de Maio deste ano, a CIPLA e a INTERFIBRA, fábricas controladas pelos trabalhadores em luta pela estatização desde 2002, sofreram um ataque de 150 policiais federais armados que acarretou na destituição do Conselho de Fábrica eleito democraticamente pelos trabalhadores. Foi claramente uma ação do governo Lula para destruir o movimento, influenciada diretamente pela pressão da ABIPLAST (patronal do setor plástico) e da FIESP, que haviam publicado na imprensa textos pedindo a repressão ao movimento.

Desde então houve várias ameaças de prisão de lideranças do movimento. Mais de 40 trabalhadores, justamente as lideranças do Conselho de Fábrica e membros ativos da mobilização foram demitidos por justa causa.

Um interventor, Rainoldo Uessler, que receberá um salário de 80 mil reais foi imposto pelo governo. Retirou conquistas que eram produtos diretos da ocupação (como a redução da jornada para 30 horas semanais) e prepara a demissão de 200 trabalhadores. Evidentemente, as assembléias e comissões que garantiam a condução democrática das decisões da fábrica foram suspensas.

O mesmo interventor tentou (felizmente sem sucesso) destituir o Conselho de Fábrica da Flaskô de Sumaré-SP, outra empresa ocupada. Depois dos trabalhadores terem o expulso da Flaskô, Pedro Santinho, líder da ocupação, recebeu ameaças de seqüestro de seu filho.

Recentemente a reacionária Revista Veja publicou uma matéria de três páginas com calúnias e acusações graves e está sendo processada pelos advogados do Movimento das Fábricas Ocupadas.

Uma ampla campanha de frente única se iniciou desde o dia da intervenção. Um ato em Joinville em 13/7 reuniu 200 pessoas com representantes de entidades, sindicatos e representantes de fábricas ocupadas do Paraguai, Argentina e Venezuela. O movimento pelo fim da intervenção recebeu mensagens de apoio da CUT, Confederação Nacional dos Químicos, MST, UEE-SP, Intersindical, do Senador Suplicy do PT e de outros parlamentares, sindicatos e entidades estudantis. Por iniciativa da Corrente Marxista Internacional, foram realizados atos contra a intervenção em embaixadas brasileiras da Rússia, México, Grécia, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Áustria e Bélgica. Moções de apoio foram recebidas também de sindicalistas da Bolívia e Peru.

Em Julho, após o corte de luz na Flaskô (corte esse fruto de acordo do mesmo interventor Rainoldo com a CPFL) foi realizada Audiência Pública por iniciativa do Deputado Estadual Raul Marcelo (PSOL-SP) que reuniu mais de 100 pessoas na Assembléia Legislativa de São Paulo.

A situação é difícil, por certo. Mas a luta tem rendido frutos como a manutenção da ocupação da Flaskô, mesmo isolada. Mais recentemente conseguimos reverter o corte de luz que havia sido imposto a essa empresa.

Sabemos que só a unidade do movimento operário e suas organizações pode por fim à intervenção, reconduzir as comissões de fábrica eleitas e recolocar a fábrica sob o comando dos trabalhadores para poder dar continuidade à luta pela estatização – única perspectiva de manter os empregos de forma duradoura.

Acreditamos ser essa a aspiração de todo militante socialista, de todos aqueles que simpatizam com a luta das fábricas ocupadas, não só no Brasil mas em toda a América Latina, que tem colocado em cheque o princípio mais sagrado dos capitalistas: a propriedade privada dos meios de produção.

E é justamente por isso que ficamos profundamente enojados com o texto “Fábricas Ocupadas – notas para um balanço para o fim da ocupação da Cipla” produzido pela Corrente O Trabalho e divulgado em seu site e jornal.

Como a maioria dos companheiros sabe, os militantes que hoje militam na Esquerda Marxista foram expulsos no ano passado de uma maneira criminosa da organização internacional dirigida por Pierre Lambert e Daniel Gluckstein, no Brasil representada por Markus Sokol e Júlio Turra (Corrente O Trabalho). Não vamos nos ater à nossa expulsão que já foi amplamente debatida em outros documentos.

Vamos aqui simplesmente responder às calúnias e delírios da corrente lambertista. Estes que afirmam ser “A IV Internacional reproclamada” rompem totalmente não só com a postura de uma organização marxista, mas também com os princípios básicos do Movimento Operário.

Para o começo de conversa, os marxistas são aqueles para os quais a prática sempre é o critério da verdade. Os lambertistas afirmam em seu documento sem nenhum pudor que “Como militantes da seção brasileira da 4ª Internacional assistimos sem satisfação à degringolada da luta dessas fábricas que contribuímos para erguer e sustentar anteriormente.”

Deixemos de lado o fato de que aqueles que dizem que no passado “ergueram” e “sustentaram” a luta não moveram uma palha para apoiar o Movimento depois da intervenção. Nem uma mísera moção de apoio.

De maneira inacreditável eles tecem uma série de calúnias que beiram à senilidade em alguns momentos… Criticam Lula e os patrões em poucas linhas (de maneira bem hipócrita como veremos) e concentram todo o resto do texto em acusações ao Movimento das Fábricas Ocupadas e à Esquerda Marxista.

Não achamos que os lambertistas precisam concordar conosco. Aliás, temos nossas diferenças políticas com muitos dos companheiros que fraternalmente nos apóiam neste momento.

Mas uma organização que se presta a escrever um texto de 4 páginas acusando de “exploradores dos trabalhadores” militantes que são demitidos, sofrem processos e ameaças de prisão dos patrões e do governo e que tem até familiares ameaçados de seqüestro, não pode ser considerada séria.

É realmente incrível! Enquanto recebemos a solidariedade mesmo dos que não têm acordo político conosco em várias questões, aqueles que dizem ser a IV Internacional no Brasil são a única corrente do movimento operário que conseguiu a proeza de fazer coro com patrões, governo e a Revista Veja nos ataques à nossa luta.

E infelizmente, para restabelecer a verdade, somos obrigados a escrever essa resposta.

Para os lambertistas é como se Lula não tivesse responsabilidade

No texto destes senhores, buscando criticar nossa avaliação sobre os motivos da intervenção, podemos ler:

… se reconhece que ‘a Esquerda Marxista do PT dirigindo o Conselho de Fábrica lançou-se na batalha pela generalização do movimento. As ocupações de fábricas, entretanto, não se generalizaram’..

Mas uma avaliação dessa decisão de generalizar ocupações, anteriormente teorizada como “o caminho da revolução”, de fato fica ausente. Tudo se resume a que o governo Lula não cedeu, não avançou de nenhum modo no sentido da estatização das fábricas o que poderia ter ampliado o movimento, ao contrário, não houve vitória como diz o texto, por causa da “ação determinante da ação do governo Lula” (repetido “ação” no original).

Mas, então, o que se conclui é que uma onda de ocupações ocorreria a depender de uma “ação” de Lula… a favor delas? Numa política de classe há ilusões que a direção não tem o direito de disseminar, como essa, porque nem os trabalhadores tem. O movimento da classe é a própria classe quem cria, mesmo com ilusões. Como ocorreu em outros períodos, na Itália dos anos 20 ou no Chile dos anos 70. Como também na Venezuela onde não foi Chávez presidente quem criou as ocupações de fábricas abandonadas ou quebradas. Foram os trabalhadores em seu próprio movimento que ocuparam e pressionaram Chávez a nacionalizá-las.

Vamos partir do princípio (bastante questionável) que nossos críticos não estão mal-intencionados com essas afirmações. Temos que constatar então que são no mínimo estúpidos. Repetir que o “movimento da classe é a própria classe quem cria” é uma obviedade que não diz nada por si só…

Pois como negar que a negativa de Lula em sequer negociar com o movimento, todas as pressões ao longo de quase 5 anos, e finalmente a repressão policial não tiveram efeitos decisivos?

Além disso, ao mesmo tempo os lambertistas dão a entender que se as fábricas conseguissem a estatização isso de pouco importaria pois o que interessa é afirmação vazia de que “o movimento da classe é a própria classe quem cria”.

Os mesmos que há décadas dizem ser a IV Internacional deveriam ao menos ter apreendido um pouco do método dialético de Marx e Trotsky. É evidente que a vitória da estatização em uma fábrica fortaleceria enormemente a luta pelo controle operário e estatização em inúmeras outras empresas. Ora, era justamente esse o temor expresso nas declarações da ABIPLAST e da FIESP, e justamente por isso que Lula, na medida em que decidiu governar com e para a burguesia, decidiu sufocar o movimento.

Mesmo que num outro contexto, o próprio exemplo do Chile que estes não-dialéticos nos oferecem são justamente a contraprova de sua teoria mirabolante. Se Allende tivesse tomado a defesa direta dos cordões industriais no Chile dos anos 70, nacionalizando as empresas isso seria ou não um impulso à Revolução? Claro que seria…

Ou ainda o que falam sobre Chavez: as expropriações sob controle operário da Inveval e da Invepal foram ou não passos importantes para a revolução que se desenvolve na Venezuela? Claro que foram e novas expropriações certamente darão mais impulso à Revolução.

É claro que ocupações ocorreram e ocorrerão independente da vontade de Lula, ou de qualquer outro. O capitalismo leva à contínua destruição dos postos de trabalho e a classe vai continuar resistindo, isso é óbvio.

Mas a que serve esta postura da Corrente O Trabalho de não centrar a responsabilidade em Lula? O resto do texto lambertista responde a esta pergunta…

A responsabilidade não é de Lula e dos patrões: é da Esquerda Marxista!

Se os responsáveis maiores pela situação não são Lula e os patrões, é preciso achar outros culpados… E pasmem: para estes senhores, os responsáveis são a Esquerda Marxista e o Movimento das Fábricas Ocupadas!

E para sustentar esta tese absurda eles usam argumentos que não podemos, como no caso anterior, imputar apenas à sua estupidez. Além da estupidez, nos deparamos com a mais profunda desonestidade política.

De forma insistente e lunática, esta corrente política criou um mito que só eles mesmos acreditam: o Movimento das Fábricas Ocupadas e a Esquerda Marxista abandonaram a luta pela estatização.

Eles afirmam:

Depois de sua ruptura com a 4ª Internacional, o termo “estatização” ainda aparecia aqui e ali nos materiais do “movimento das fábricas ocupadas”, mas desencarnado de qualquer conteúdo. O fato é que, tendo se ligado na Venezuela à Freteco (Frente revolucionária de trabalhadores de empresas em co-gestão e ocupadas), dirigida pelo grupo inglês “Militant”, e tendo assegurado um fornecimento de matéria-prima pelo governo da Venezuela, o grupo de SG abandonou desde a ruptura em abril de 2006 o caminho da luta pela estatização.

Por isso, em termos práticos, a 2ª Caravana à Brasília pela Estatização, de meados do ano passado, foi cancelada sem explicação, e substituída por uma nova Conferência Pan-americana, em Joinville, no final do ano, mas agora, diferente de conferências anteriores, contornando a exigência dirigida a Lula de estatização.

Ou ainda em outra passagem eles dizem:

A verdade é que se Lula não atendeu aos trabalhadores da fábrica, o grupo de SG adotou uma orientação que abandonou a luta de frente única pela estatização facilitando o inaceitável ataque do governo Lula, a serviço da ABIPLAST e FIESP.

Confessamos que é desgastante sermos obrigados a responder a tanta falsificação. Se temos uma marca no movimento operário é a nossa batalha persistente e incansável pela estatização das fábricas ocupadas. Em todas as manifestações e atividades do movimento empunhamos esta bandeira. E o mais desprezível é que os mesmos que nos acusam de abandonar a bandeira da estatização, desde a cisão em abril de 2006, quase não mais tocaram no assunto em seu jornal. E muito pior, simplesmente boicotaram a maioria das manifestações, atos, reuniões pela estatização promovidas pelo Movimento das Fábricas Ocupadas no último ano. Nem mesmo se deram ao trabalho de enviar moções contra ações judiciais que o movimento das fábricas ocupadas sofreu de lá para cá. A mesma luta que eles dizem que no passado “ergueram” e “sustentaram”…

Mesmo se tivéssemos de fato abandonado a luta pela estatização, não seria a Corrente O Trabalho quem teria direito de nos criticar. Fazendo uma analogia: um fura-greve não tem direito de atacar um sindicato que considere pelego.

Mas para que não paire a menor dúvida sobre a questão vamos dar apenas alguns poucos exemplos de quão caluniosos são nossos críticos:

– Eles afirmam que a Caravana à Brasília de 2006 não foi realizada… De onde tiraram essa idiotice? 1500 pessoas estiveram em Brasília, e na capa de nosso Jornal (O Trabalho [Maioria] edição 605) estampávamos “Trabalhadores em Brasília exigem estatização”. Se eles boicotaram a manifestação, faz parte de sua estreiteza política e sectarismo… Mas isso não os dá o direito de mentirem tão deslavadamente assim!

– É preciso frisar também que estes cínicos proferem mais inverdades quando se referem ao Encontro Panamericano das Fábricas realizado em Dezembro de 2006. De fato, nem todos os participantes da conferência (que reuniu 700 pessoas de 11 países) eram defensores da estatização. Sabemos que no movimento de ocupação de fábricas existem os que defendem a posição de cooperativas, que na prática tende a transformar os trabalhadores em mini-patrões. Mas não somos sectários. Sabemos que entre esses companheiros há muitos que têm uma vontade real de lutar junto à classe operária, vontade que parece cada vez mais inexistente no caso dos lambertistas… Queremos democraticamente convencer esses companheiros de outros países que sua posição não só é errada, como perigosa.

– Em nosso jornal, às vésperas do segundo turno colocávamos a estatização das fábricas como exigência central a Lula (edição 610, pg 3). Já o jornal lambertista no mesmo período nem mesmo mencionava o assunto. Engraçado, não?!

– Esses pinóquios insinuam que nosso contato com a Freteco (Frente de fábricas sob controle dos trabalhadores na Venezuela) teria levado ao abandono da luta pela estatização. Bom, em primeiro lugar, somos muito orgulhosos de termos relações políticas com a Freteco que é o agrupamento que tem levado uma batalha fundamental nas fábricas ocupadas da Venezuela. E, assim como nós no Brasil, eles levam um combate prático pela estatização sob controle operário na Venezuela. Para que não haja dúvidas, leiam a declaração da Freteco no link a seguir:
http://www.marxist.com/heroica-lucha-trabajadores-sanitarios-maracay.htm

– Por fim estes irresponsáveis da Corrente o Trabalho insinuam que o acordo comercial que as fábricas ocupadas fizeram com o governo Chávez para obtenção de matéria-prima seria mais um motivo de nosso suposto abandono da bandeira da estatização. O que querem dizer com isso? Que os trabalhadores não devem ter acesso à matéria prima, num contexto em que o mercado é controlado por gigantes multinacionais? Os trabalhadores de uma fábrica ocupada não têm o direito de produzir?

Rechaçamos mais essa imbecilidade de nossos críticos. Ainda mais quando o acordo em questão significa um apoio direto do governo Chávez à luta das fábricas ocupadas. Apoiamos e nos orgulhamos deste acordo cujo objetivo era não só de apoiar as fábricas, mas também em contrapartida ajudar a Venezuela com material plástico para o maior programa de casas populares do mundo, depois da China. A mesquinhez dos lambertistas nesse ponto é sem tamanho… Mais uma vez eles não têm pudor em se equipararem aos patrões, como o presidente da ABIPLAST que declarou: “O governo venezuelano apóia ocupações de indústrias de plásticos que foram assumidas por operários. Já são três (Cipla, Interfibra e Flaskô) as empresas que recebem apoio na forma de compra subsidiada de matéria-prima vinda da Venezuela… Em razão dessas atitudes, é imprescindível que os empresários e a sociedade civil de forma geral, organizem um manifesto de repúdio contundente a esse tipo de prática antes que isso se torne cotidiano e prejudique a democracia.”

Ou então fazerem coro com a Revista Veja que escreveu: “os militantes adotaram Hugo Chávez como patrono. No ano passado, a Cipla recebeu três lotes de matérias-primas da Pequiven, a estatal petroquímica venezuelana, no valor de 2,5 milhões de reais, em condições camaradas de pagamento.”

Lamentável… E para quem acha que os nossos acusadores param por aí, estão enganados. Comentando a ocupação do INSS realizada em Joinville com objetivo de obter um acordo da enorme dívida que a empresa acumulara na época dos antigos patrões, eles afirmam:

a direção da CIPLA tentava contornar o incontornável problema da propriedade – cuja única solução era a estatização – e seu objetivo “em Brasília” passara de fato a ser não mais a estatização, mas o “tratamento igual a outros devedores”. A esta altura, a direção da empresa se agarrava a um pedaço de papel sem conteúdo político nem valor legal para anunciar uma “vitória” irreal.

Quem acompanha a luta das fábricas ocupadas sabe que a cobrança dessas dívidas patronais antigas sempre foi uma das principais (senão a principal) dificuldade para tocar a fábrica sob controle dos trabalhadores. Para estes senhores da Corrente O Trabalho, isso parece não ter nenhuma importância.

A Cipla e a Interfibra são empresas cujas dívidas não são sob hipótese alguma de responsabilidade dos trabalhadores que as ocuparam. Ao mesmo tempo os capitalistas de várias empresas devem bilhões aos cofres públicos impunemente, e nunca o governo faz nada de efetivo para puní-los. A Transbrasil deve quase 800 milhões ao INSS, o Itaú e a Vale do Rio Doce, cerca de 400 milhões.

Uma matéria do dia 21 de Agosto, do Valor Econômico, afirma que o estoque total de dívidas das empresas com a União, sem contar as dívidas previdenciárias chega a 437,87 bilhões de reais, dívidas que vão sendo proteladas pelo mecanismo do Refis. A matéria ainda afirma que uma grande parcela desta dívida “dificilmente voltará aos cofres federais porque estão espalhados em milhares de processos nos quais os procuradores da Fazenda executam empresas falidas, firmas que deixaram de operar ou pessoas jurídicas de fachada ou laranjas.”

Isso denota por si só o quão escandalosa é a intervenção na Cipla. Para a burguesia: sonegação de impostos e nunca ninguém é punido! Para as fábricas ocupadas: polícia e demissões!!!

Quando o Movimento das Fábricas Ocupadas buscou negociar estas dívidas, evidentemente não se tratava de deixar de pleitear a estatização em nome de condições melhores para o pagamento das dívidas.

O fato é que sabíamos que a qualquer momento, essas dívidas poderiam ser usadas contra o Movimento. E de fato, foram justamente as dívidas a justificativa hipócrita do governo e do INSS para realizarem a intervenção. Por isso era nosso dever tentar negociar a dívida o quanto antes para atrasar ao máximo o ataque do governo contra os trabalhadores.

Isso tudo é tão evidente que só mesmo a mente tendenciosa e pervertida dos lambertistas não pode enxergar. Em vez de denunciar a hipocrisia do Estado burguês que permite o roubo generalizado do dinheiro público, eles atacam o Movimento das Fábricas Ocupadas que, ao tentar negociar as dívidas, buscava injetar mais fôlego à luta pela estatização.

Um delírio sem fim

Na sua cruzada ridícula e infame de tentarem desvirtuar nossas posições e de nos responsabilizar pela intervenção da Cipla e da Interfibra, estes sujeitos não têm limites!

Uma outra citação de seu texto, é simplesmente asquerosa:

A verdade é que a fábrica já tinha se tornado “uma empresa no mercado”, cujos trabalhadores eram explorados como todos são no mercado, e até mais no caso da CIPLA e INTERFIBRA, pois seus direitos (FGTS etc) não eram corretamente respeitados, tal como fazem os piores patrões.

Estes difamadores querem dizer então que a Cipla se tornou uma empresa capitalista qualquer, ou uma “cooperativa de mercado” como já fizeram em outros documentos.

É lógico que a CIPLA e a INTERFIBRA, enquanto não forem estatizadas, ou enquanto os trabalhadores não tomarem o poder, são obrigadas a conviver com a sociedade capitalista. Alíás, não só a CIPLA e a INTERFIBRA, mas todas as fábricas ocupadas na história do movimento operário até hoje.
A grande verdade é que para estes que se dizem “trotskistas” nenhuma fábrica deve ser ocupada, pois invariavelmente elas se transformam em empresas capitalistas ou cooperativas.

Isto fica bem claro quando Daniel Gluckstein, principal dirigente lambertista afirma na página 128 do número 48 da edição brasileira da Revista “A Verdade” que “é legítimo que os trabalhadores (…) em circunstâncias determinadas, SE NÃO HOUVER OUTRA FORMA A NÃO SER OCUPAR AS FÁBRICAS (aumentativo nosso), façam a fábrica produzir esperando que haja uma solução.” Quer dizer: em casos extremos, raríssimos, onde talvez os trabalhadores não encontrem novos patrões disponíveis para explorá-los, aí sim é legítimo ocupar as fábricas. Lamentável!

Comparemos a covardia desta posição de Gluckstein com o que Trotsky dizia no Programa de Transição sobre ocupações de fábrica:

“O movimento operário da época de transição não tem um caráter regular e igual, mas febril e explosivo. As palavras-de-ordem, assim como as formas de organização, devem estar subordinadas a este caráter do movimento. Fugindo da rotina como da peste, a direção deve estar de ouvido atento à iniciativa das próprias massas. As greves com ocupação de fábricas, uma das mais recentes manifestações desta iniciativa, escapam aos limites do regime capitalista normal. Independentemente das reivindicações dos grevistas, a ocupação temporária das empresas golpeia no cerne a propriedade capitalista. Toda greve com ocupação coloca na prática a questão de saber quem é o dono da fábrica: o capitalista ou os operários.”

Deste modo, ouvir desses senhores que nos tornamos patrões, nos deixa praticamente sem palavras de tanto nojo.

Por isso, nesse ponto nós deixamos que uma pessoa pouco suspeita de nos defender, fale por si só:

“Se vocês das fábricas ocupadas tivessem aceitado uma cooperativa e não continuassem com essa história de estatização, certamente a intervenção da PF não ocorreria.”

Caros leitores! Estas são palavras do Ministro Luiz Marinho da Previdência, responsável direto pela intervenção, numa reunião com representantes do Movimento das Fábricas Ocupadas.

Precisa dizer mais?

Então dizemos: a própria Revista Veja enxergou o óbvio que os lambertistas negam, quando publicou: “A meta imediata do Movimento das Fábricas Ocupadas é a estatização das empresas sob administração dos funcionários.” E mais! A Revista conclui a matéria afirmando: “A esperança é que seja decretada a falência das firmas. Dessa forma, poderiam formar cooperativas e assumir a administração das empresas. No Brasil, há 409 cooperativas assim. Os empregados pagam um aluguel pelo uso da fábrica até que ela vá a leilão e possa saldar suas dívidas. Os funcionários querem fazer exatamente isso, dessa vez, sem a intromissão de militantes comunistas.”

Isso é a prova mais cabal de que nós nunca defendemos que as fábricas virassem cooperativas e é justo agora após a intervenção que a Revista Veja sugere que isso ocorra.

E eles acusam-nos ainda de exploradores dos trabalhadores das fábricas, pelo fato de certos direitos trabalhistas não terem sido depositados. Mentira deslavada! Nesse ponto não passam de papagaios do interventor Rainoldo Uessler que declarou à Revista Veja: “A companhia estava deficitária e os impostos não eram pagos.”

Para quem não conhece toda a história de nosso Movimento, vamos esclarecer os fatos.

Após a ocupação, as fábricas de fato deixaram de depositar o INSS e o FGTS. Mas isso ocorreu porque, em Assembléia, os próprios trabalhadores decidiram que a prioridade do dinheiro que entrasse seria para pagamento de salários e para tocar a produção (matérias-primas, etc…). Em função das dívidas deixadas pelos antigos patrões e também pelas dificuldades financeiras em produzir na fábrica ocupada, faltavam os recursos para o depósito desses direitos. Foi uma decisão acertada, em função das circunstâncias extremamente difíceis da luta.

Esta decisão pública tomada pelos trabalhadores das fábricas nunca havia sido questionada pelos lambertistas antes da cisão da Corrente O Trabalho. De 2002, quando começou o movimento das fábricas ocupadas, até 2006, eles apoiaram em todos os momentos essa decisão. Desta forma, pela sua lógica demente, os lambertistas teriam que reconhecer que apoiaram essa suposta “exploração” durante 4 anos…

Os lambertistas são contra a recondução da Comissão de Fábrica da Cipla e Interfibra!

Caros leitores, mais uma indigesta citação desses senhores:

Mas o que significa a “o fim da intervenção e a volta do controle aos trabalhadores”? Nas condições concretas, significaria a “luta” para devolver as fábricas ao controle do grupo de SG, e os trabalhadores à exploração pelo seu “conselho”. De fato, não se trata mais para nada da luta pela estatização!

Os supostos “porta-vozes” da “IV Internacional” no Brasil cumprem aqui um papel digno da Força Sindical, de Joaquinzão e cia. Na prática, o que estão afirmando é serem contra que a intervenção termine e que a Comissão de Fábrica eleita pelos trabalhadores volte para as empresas.

Perguntamos então a esses notáveis farsantes: como é possível então prosseguir a luta pelos empregos, pela estatização da Cipla? Com o interventor que já anuncia 200 demissões? Com um novo patrão capitalista?

Se os lambertistas acham que a Comissão Eleita não tem as condições de liderar a ocupação é direito deles. Poderiam propor que os trabalhadores elejam outra comissão. Mas o que eles estão dizendo com sua declaração é que os trabalhadores não devem voltar a controlar a empresa, a eleger seus representantes, a exercer o controle operário.

É uma postura vergonhosa. Ela é tão grave como por exemplo, não defender que os sindicalistas demitidos do metrô de São Paulo recentemente sejam readmitidos. Podemos ter desacordos com esses companheiros sindicalistas, mas é evidente que qualquer organização da classe trabalhadora deve se solidarizar com eles e defender a sua readmissão.

Os lambertistas são pelegos, para usar português bem claro.

E eles ainda ousam…

Como se tivessem ainda qualquer autoridade moral e política depois de todas essas barbaridades que citamos, os lambertistas ainda têm a ousadia e a pretensão de desmoralizar o balanço político que fizemos da intervenção contra a CIPLA e a INTERFIBRA.

Nós dizemos em nosso balanço:

“Não se reuniram as forças suficientes no movimento operário para obrigar o governo a estatizar as fábricas para salvar os 1000 empregos. Jogou para isso um papel central a ação do aparelho Lulista no movimento operário. Nestas condições, durante estes cinco anos de luta as forças do movimento operário na CIPLA e INTERFIBRA se cansaram, se esgotaram e finalmente foram derrotadas e paralisadas pelo choque da intervenção policial militar sob comando de todas as forças da reação, do Estado burguês em seu conjunto, ou seja, com a ação determinante da ação do governo Lula.”

Nossos tresloucados críticos reagem furiosamente:

A maior surpresa veio quando a PF entrou nas fábricas e instalou um interventor que não encontrou qualquer reação dos trabalhadores. Nem quando anunciou 40 demissões. Lembremos que tentativas policiais anteriores encontraram forte resistência em piquetes – inclusive com carretas atravessadas nos portões e tambores de gasolina – além da solidariedade ativa de centenas, senão milhares de trabalhadores e jovens da cidade.
Esse fato crucial – a ausência de reação – não tem qualquer explicação nos textos de balanço (…) Numa palavra, a culpa é dos trabalhadores “cansados e esgotados”. Mas e a direção não cometeu nenhum erro, nunca, fez tudo certo, sempre? Os trabalhadores é que não estavam a altura da direção !?
Que vergonha escreverem uma coisa dessas!

Aqui mais uma vez mistura-se o delírio dos lambertistas e sua teimosa mania de distorcer tudo.

Não reconhecer que houve um desgaste profundo do movimento é um absurdo. Qual outra fábrica ocupada pelos trabalhadores ficou tanto tempo sob controle operário no Brasil, excetuando-se evidentemente as que viraram cooperativas? Os 5 anos de luta, ameaças de todo o tipo, tentativas de retiradas de máquinas, pressões materiais, e fundamentalmente os ataques que o governo passou a realizar, minaram as forças do movimento operário nas fábricas. E finalmente, mesmo se prevíamos um possível ataque direto, não podíamos prever que no dia 31 de Maio haveria 150 homens da PF, ameaçando com armas os que se opusessem à intervenção, inclusive mulheres e senhores de idade.

Quando os lambertistas dizem que “culpamos” os trabalhadores pela derrota, eles insultam nossa paciência e nossa inteligência. Nossa afirmação é bem clara: as forças do movimento operário se esgotaram e isso impediu uma forte reação no momento da intervenção. E, evidentemente, quando falamos do desgaste das forças do movimento operário, incluímos não só os trabalhadores em geral, como os líderes da Comissão de Fábrica e os militantes da Esquerda Marxista que dedicaram suas vidas nos últimos cinco anos a esta bela e correta luta. Não se trata evidentemente de negar que tenhamos erros, falhas e limitações na condução do processo. Mas repetimos: não são trabalhadores nem as lideranças do Movimento (que também são trabalhadores) os culpados dessa derrota que sofremos, mas sim o governo Lula e os patrões!

É muito indignante o fato de que justamente os militantes lambertistas que mesmo antes da cisão da Corrente O Trabalho pouco faziam pelo Movimento das Fábricas, agora queiram dar “lições”. Quando eles relatam que outros períodos houve “forte resistência em piquetes – inclusive com carretas atravessadas nos portões e tambores de gasolina, etc” eles têm razão. Eles apenas se esquecem de mencionar que quem sempre esteve na linha de frente destas batalhas são os militantes que hoje estão na Esquerda Marxista. Dos militantes que hoje estão na Corrente O Trabalho lambertista, podemos contar nos dedos de uma mão os que participaram de tais mobilizações eventualmente.

É muita hipocrisia! E o pior é que além de não terem qualquer legitimidade depois de tantas inverdades, os lambertistas em seu texto já declararam a derrota total e definitiva das ocupações na CIPLA e na INTERFIBRA.

Sabemos que perdemos uma dura batalha, mas a guerra ainda não acabou. Enquanto a Esquerda Marxista em conjunto com várias organizações busca lutar pelo fim da intervenção e a volta do controle operário das fábricas, os lambertistas já dão como certo o fim da ocupação. É só observarmos o nome do texto deles “balanço sobre o fim da ocupação”.

No caso da Flaskô esses senhores tacanhos tripudiam citando a ocupação da Flaskô apenas entre aspas e dizendo que a empresa está “virtualmente condenada porque ela é propriedade da Cipla”.

Talvez para o desgosto dos lambertistas que inegavelmente torcem para que tudo dê errado no Movimento das Fábricas Ocupadas, a Flaskô continua sob controle dos trabalhadores e voltou a produzir recentemente depois de expulsar o interventor e reconquistar a luz que havia sido cortada. As dificuldades são imensas, mas os trabalhadores da Flaskô e sua Comissão de Fábrica têm levado uma corajosa e firme resistência.

IV Internacional?!

Depois desse festival de atrocidades políticas e falta de honestidade desses senhores para com a Esquerda Marxista e o Movimento das Fábricas Ocupadas, os mesmos senhores que nos expulsaram da Corrente O Trabalho em abril de 2006 ainda têm a coragem de concluir o texto dizendo:

Queremos ajudar todos militantes a refletir.
Camaradas, nada disso era inevitável se não fossem cometidos os erros que foram cometidos, a serviço de uma política espúria e mal-escondida, como alertamos. Que reflitam sobre a base de um balanço até o fim, e reencontrem o caminho do programa da 4ª Internacional!

Quem eles acham que vão conseguir convencer com esse “apelo”?

Política espúria e mal escondida é o curso tomado pelos lambertistas nos últimos tempos. Cada vez mais distantes do trotskismo e do marxismo eles tentam justificar aos seus militantes a expulsão criminosa e stalinista que realizaram.

Cada vez mais à direita, esses senhores se distanciam do socialismo, do controle operário sobre a economia e a política.

Na sua emenda ao III Congresso do PT, eles adotam a posição de “Revisão da Coalizão”. O que significa “Revisão da Coalizão”. Talvez se livrar do Renan Calheiros e deixar o resto da burguesia no governo?

Nós da Esquerda Marxista dizemos claramente que o PT deve se dirigir a Lula para ROMPER a coalizão com os partidos conservadores, fisiologistas e burgueses, PMDB, PL, PP, PR, PTB, etc.!

Mas uma posição como essa está fora do cardápio da suposta “IV Internacional”, que de uns tempos para cá não fala mais em ruptura com a burguesia e adota como bandeira central a “soberania nacional” não apenas dos países oprimidos, mas pasmem, também de países imperialistas.

Nas últimas eleições francesas, os lambertistas e o seu “Parti des Travailleurs” lançaram e coordenaram a candidatura à Presidência de Gerard Schivardi sob o lema de “reconquista da democracia”. E o que mais chamou a atenção é que Schivardi apareceu em vários momentos da campanha usando faixas com as cores da bandeira tricolor (azul, branca e vermelha) francesa. Ver no site
http://www.milanpresse.com/presidentielle/canditats_Schivardi.html

Realmente muito estranho para qualquer um que reivindica o legado de Marx que desde 1848 nos ensinava que os operários não têm pátria.

Os lambertistas denunciam nossa aproximação com a Corrente Marxista Internacional (CMI). Chega a ser irônico!

Nunca é demais lembrar que a suposta “IV Internacional” lambertista nunca fez nada pelas fábricas ocupadas.

Numa conferência do ACIT (agrupamento controlado pelos lambertistas) em Madri (2005), chegaram ao cúmulo de barrar uma resolução de apoio à luta em defesa das fábricas ocupadas e seus dirigentes, deixando perplexos militantes e operários da Cipla e da Interfibra que com muito custo foram à reunião.

E ainda querem nos dizer que eles são a IV Internacional de Trotsky?

Rechaçamos firmemente essa idéia. Para nós a Internacional Revolucionária deve ser construída nos próximos combates da luta de classes, e não com os métodos espúrios dos lambertistas.

Os camaradas da CMI por sua vez, que conhecemos na luta prática das ocupações de fábricas na Venezuela, sempre estiveram na linha de frente da defesa de nosso Movimento, divulgando-o e defendendo-o em dezenas de países. Esse fato, somado a inúmeros acordos e concordâncias políticas é o que nos aproxima deles hoje.

E é dessa forma que vamos prosseguir nossa batalha. Lutamos pela reconstrução da IV Internacional, pelas idéias do Programa de Transição. Defendemos a bandeira da Internacional Revolucionária, baseada nas idéias de Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Uma bandeira vermelha, apenas vermelha.

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