Não é preciso buscar respostas muito bem elaboradas para o óbvio: o individualismo, seja qual for, leva à destruição de todo movimento político. Em “Um passo à frente, dois passos atrás”, Lênin parafraseia Plekhanov, dizendo que, em se tratando de política, não devemos ser retilíneos, inoportunamente ásperos e intransigentes. Por vezes, é indispensável ceder.
A luta pelo fim da escala 6×1, pautada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), é legítima, como todas as lutas travadas pela classe trabalhadora ao longo dos séculos. Mas há uma resistência em ultrapassar os métodos de um movimento espontâneo e desorganizado.
O WhatsApp é a principal forma de organização do VAT. O problema é que, nem assim, há qualquer tipo de democracia ou organização política. Alguns grupos organizados por eles, por exemplo, têm limitação de envio de mensagens apenas para os administradores, impedindo que haja diálogo ou qualquer troca de informações.
Na última terça-feira (4), mais uma vez, apoiadores do movimento foram censurados pela direção nacional do VAT. Na ocasião, as mensagens foram liberadas no grupo VAT Mulher, que estava fechado há meses, e o assunto girava em torno dos atos de 8 de março. Após algumas trocas de mensagens, uma apoiadora se posicionou contra a opinião de uma das administradoras do grupo. O resultado? Mensagens de deboche, expulsão de várias mulheres e exclusão do grupo.
Mobilizar é preciso
Às vésperas do 8 de março, dia que simboliza o marco histórico da luta pelos direitos das mulheres, recebemos como “incentivo” a desmobilização. Em vez de encorajar as mulheres trabalhadoras a irem às ruas, vemos uma censura descabida e nenhum convite para se juntar aos grupos que se organizam por todo o país para se manifestar na data mencionada. Um dos argumentos utilizados foi que “ninguém vai ler tudo isso de texto”. Realmente, não será por meio de um discurso verborrágico e vazio que vamos convencer as massas a se unirem a nós, mas também não é com autoritarismo e censura que um movimento se constrói. É por meio de caminhadas, panfletagens e conversas de igual para igual que construiremos o que precisamos. Um trabalho de formiguinha, de muitas formiguinhas.
O VAT decidiu não se unir aos diversos movimentos, organizações e partidos políticos que farão atos em prol do 8M de Norte a Sul do país. A decisão da diretoria é realizar um encontro na manhã de sábado com um café da manhã e lives no Instagram, para que as mulheres discutam seus problemas individuais. Uma roda de conversa que mais parece o muro das lamentações, como já aconteceu outras vezes nos grupos do WhatsApp. Outro detalhe importante é que esse encontro ocorrerá presencialmente apenas em São Paulo, excluindo o restante do país. Existem mulheres trabalhadoras no país inteiro. Uma transmissão ao vivo no Instagram é suficiente para que elas participem? E as mulheres trabalhadoras da escala 6×1, que não podem utilizar o celular durante o expediente, como participarão? Contradições do VAT, mais uma vez.
A história nos ensina sobre a importância da mobilização. Por que silenciar mulheres que estão reunidas para lutar? Por que impedir o contato e a troca de mensagens entre mulheres trabalhadoras? Por que não somar com os movimentos de frente única para os atos de 8 de março, convocando as mulheres ativistas do VAT? Não faz sentido, assim como muitas outras atitudes da administração do VAT. Aqui, vale ressaltar que essa administração foi escolhida a dedo, sem uma eleição democrática. Não houve diálogo. Não há diálogo. Existe um grupo, organizado por WhatsApp, que se comporta como dono da pauta.
Apesar da expulsão em massa, nós, da OCI, e diversos outros partidos, organizações e movimentos políticos permanecemos na luta e acreditamos que é preciso construir unidade para acabar com a escala 6×1. É preciso se mexer, camaradas. É preciso despertar o desejo pela política revolucionária, torná-la mais forte e alcançar a todos, sem exceção. Nós, comunistas, defendemos e lutamos pelos direitos dos trabalhadores. Lutamos pelo fim da exploração da mulher no mercado de trabalho, sem discriminações ou humilhações. Lutamos para construir uma sociedade verdadeiramente democrática, em que tudo seja decidido pela maioria. Lutamos pelo comunismo no Brasil e no mundo. Afinal, a luta das mulheres é também a luta pelo socialismo.