A greve geral catalã contra a repressão e a intervenção do Artigo 155, e pela libertação dos presos políticos conseguiu paralisar o país. Apesar de todas as dificuldades, a greve teve um grande número de participantes no ensino, no setor público e nos meios de comunicação, mas foi quase inexistente na indústria e no transporte. No entanto, o dia foi marcado por bloqueios massivos de estradas e do transporte, organizados pelos Comitês de Defesa da República (CDR), e por manifestações massivas em todas as cidades e povoados.
A greve foi convocada como parte dos protestos contra a prisão de oito membros do governo catalão sob acusações de rebelião, sedição e má administração de fundos públicos, por sua participação no referendo sobre a independência da Catalunha de 1 de outubro. A convocatória legal à greve foi emitida por um pequeno sindicato de pouca representação (I-CSC), mas logo ganhou o apoio de outros sindicatos, como COS (um pequeno sindicato independentista) e IAC (que inclui a USTEC, o sindicato majoritário entre os docentes da Catalunha, e a CATAC, o sindicato majoritário dos funcionários públicos catalães). A CGT da Catalunha, que desempenhou um papel fundamental na greve geral anterior contra a repressão de 3 de outubro, desta vez não teve tempo de passar pelo processo completo de consulta aos seus membros, mas muitas de suas regiões e federações mostraram-se favoráveis (incluída a sua federação de ensino, as regiões de Tarragona e Lleida, o Sindicato de Trabalhadores Metalúrgicos de Barcelona etc.). O movimento estudantil, liderado por Universidades pela República, também se uniu à convocatória da greve.
[table id=4 /]Houve evidentes dificuldades para se convocar uma greve abertamente política sem o apoio das duas principais confederações sindicais (CCOO e UGT), que nem sequer pretenderam apoiá-la como fizeram em 3 de outubro, e houve muito pouco tempo para organizá-la. Ademais, a principal organização de empresários catalães, Foment del Treball, apresentou uma impugnação judicial alegando que se tratava de uma greve política (e, portanto, proibida pela legislação trabalhista espanhola). O tribunal não se pronunciou sobre a impugnação até a véspera da greve e então Foment recorreu ante um tribunal superior, que também a descartou. Como resultado, houve incerteza sobre a legalidade da greve até o último minuto. A atitude da burguesia catalã foi clara desde o início: está contra a independência e, particularmente, está contra tudo o que tenha a ver com mobilizações de massas e greves. Os Comuns adotaram a posição escandalosa de não apoiar a greve pelos direitos democráticos afirmando que “não tinha uma base suficientemente ampla”.
Finalmente, a greve teve uma grande adesão na educação, onde pararam 80%, segundo os organizadores, e entre os funcionários públicos catalães, dos quais 40% cruzaram os braços. Os trabalhadores dos meios de comunicação estatais catalães (TV3, Catalunya Radio etc.), que se encontram sob ameaça direta de intervenção do Artigo 155, também votaram a favor da greve em assembleias massivas. O sistema de saúde pública também se viu afetado e houve o fechamento generalizado de pequenas lojas e negócios. No entanto, ficou claro que a greve teve um acompanhamento extremamente limitado na indústria e no transporte.
Aquest és el camí! defensant la República Catalana.
Dissabte a omplir la manifestació! #llibertatPresosPolítics ! #SomRepública !https://t.co/bxg14PLdGF pic.twitter.com/N9royP6a21
— Assemblea Cunit 🎗 (@AssembleaCunit) November 9, 2017
Um dos pontos focais dos protestos do dia foram os bloqueios de estradas e do transporte organizados pelos Comitês de Defesa da República. Esta foi realmente a primeira vez que a coordenação nacional dos CDR organizou uma ação independente, e foi um grande êxito. Desde cedo pela manhã, 50 das principais estradas foram bloqueadas em toda a Catalunha, e cada bloqueio de vias foi realizado por centenas de pessoas. Esses bloqueios incluíram as principais autopistas que unem a Catalunha à França e Valência, bem como as principais estradas que levam à Andorra e Aragão. Na província de Barcelona, a maioria das principais estradas foram bloqueadas de um ponto a outro. Em Barcelona, as ruas principais foram bloqueadas, bem como a principal estação de ônibus.
C-58 a #Sabadell tallada en ambdós sentits!#VagaGeneral8N #LlibertatPresosPolítics#CDRenXarxa pic.twitter.com/CW3v1AkAIy
— CDR Sabadell (@cdrsabadell) November 8, 2017
Em Girona, umas 500 pessoas romperam o cordão de isolamento da polícia para ocupar a estação principal de trens e interromperam a circulação dos trens AVE de alta velocidade durante todo o dia. A principal estação de trens de Barcelona, Sants, foi bloqueada na última hora da tarde por uma manifestação de centenas de estudantes que também conseguiram deter os trens AVE. A polícia logo fechou a estação e se dispôs a desalojar os manifestantes, mas esses foram apoiados por centenas de pessoas que se agruparam do lado de fora e finalmente os que ficaram trancados do lado de dentro puderam escapar através de uma saída de emergência.
Girona:
https://twitter.com/erik_stny/status/928161280095080448
Barcelona:
Les estudiants paralitzem l'estació de Sants. Ni la por ni la repressió ens aturaran, per la dignitat d'aquest poble! #VagaGeneral8N pic.twitter.com/JsOllyBtdW
— SEPC (@SEPC_nacional) November 8, 2017
Não houve incidentes importantes com a polícia durante o dia, embora camionetas da Polícia Nacional tenham arremetido contra um bloqueio na Grande Via de Barcelona e a polícia antidistúrbios dos Mossos [Mossos d’Esquadra – polícia catalã] tenha atacado um par de bloqueios e desalojado pela força os bloqueadores da estação de ônibus de Barcelona. Os Mossos agora estão sob o comando direto do governo espanhol, mas durante todo o dia parecia que a atitude geral da polícia, enfrentada a uma mobilização em grande escala, era a de não intervir para não inflamar ainda mais a situação.
https://twitter.com/CDRPoblenou/status/928210307289374720
https://twitter.com/CDRPoblenou/status/928210307289374720
Gran Via:
https://twitter.com/CAT_Francesc/status/928193422191718400
Ao meio-dia houve manifestações massivas em muitas cidades e povoados, incluída uma que encheu toda a Praça de Sant Jaume em Barcelona. As colunas organizadas pelos CDR dos bairros convergiram até o centro da cidade. Em Mataró, juntaram-se 3.000 pessoas e logo marcharam para bloquear uma estrada próxima. Em Sabadell, 3.000 pessoas marcharam ao meio-dia. Em Terrassa, havia 10.000 pessoas na concentração.
Praça Sant Jaume:
🔴 Protesta en Plaza Sant Jaume para pedir la liberación de exconsellers y 'los Jordis'. #VagaGeneral8N #directo pic.twitter.com/SqJYoexgnb
— La Vanguardia (@LaVanguardia) November 8, 2017
Coluna marchando de Sants:
Una columna de manifestants surt de #Sants en direcció a plaça de Sant Jaume @La_Directa pic.twitter.com/qMTjZ512Ob
— Jesús Rodríguez (@albertmartnez) November 8, 2017
Mataró:
Autopista totalment tallada per part de la manifestació convocada pel @CDRMataro pic.twitter.com/V4ybDZyAug
— El Tot Mataró i Maresme (@totmataro) November 8, 2017
Sabadell:
VIDEO La manifestació de la vaga general a #sabadell concentra unes 3.000 persones https://t.co/lvWXkqdDrD pic.twitter.com/LmTaenyEGq
— NacióSabadell (@NacioSabadell) November 8, 2017
Terrassa:
Una riuada humama, el poble treballador i les classes populars desborden totes les previsions milers de persones es manifesten al carrers de #Terrassa Unes 10.000! #Llibertatpresospolitics #VagaGeneral8N#8NVagaGeneral#AturadaRac1 pic.twitter.com/GuxIJNBPoV
— Manel Márquez 🔻 🇵🇸 (@manelmarquez) November 8, 2017
No final da tarde, os CDR aconselharam a todos a reforçarem os bloqueios de vias nas principais estradas que entravam e saiam da Catalunha (Operació Fronteres, como foi chamada), e novamente centenas responderam ao apelo, viajando longas distâncias para ajudar àqueles que já estavam bloqueando-as ainda antes do amanhecer.
Durante a noite houve mais uma vez grandes manifestações em todos os povoados e cidades. Dezenas de milhares de pessoas encheram a Avinguda da Catedral em Barcelona. O ambiente já não era de euforia ou de celebração, mas de resolução e combatividade. O secretário-geral da UGT catalã, Camil Ros, foi repreendido e vaiado por causa da posição de seu sindicato de não apoiar a convocação da greve geral. Uma representante dos CDR falou, apresentando um discurso combativo que foi muito bem recebido. Deu ênfase à importância da organização popular: “deve ser uma república dos de baixo, e não dos de cima”, disse ela, “devemos continuar saindo às ruas visto que sem nós não há República”.
Milhares de pessoas encheram a Praça Mercadal em Reus, mais uma vez. Milhares também se manifestaram em Vic, Manresa, Lleida, Vilanova i la Geltrú, Vilafranca e dezenas de outros povoados e cidades.
Reus:
#Reus demana #Llibertatpresosolitics @ANC_Reus @omniumbaixcamp pic.twitter.com/T2jDXH44g1
— Ramon Masip (@ramon_masip) November 8, 2017
Vic:
Així sona 'Els Segadors' en una Plaça Major de Vic plena de gom a gom @OmniumOsona @omnium @assemblea @AssembleaOsona @ANC_Vic pic.twitter.com/W7bHIk3sMi
— Canal Taronja Osona, Moianès i Lluçanès (@TaronjaTV) November 8, 2017
Manresa:
Ajuntament de Manresa, ara mateix pic.twitter.com/cKymdqDM6i
— Brainwave (@forgettingatall) November 8, 2017
Lleida:
Feia molt fred, molt.
Però més en fa a la presó.
Un cop més, orgullós de #Lleida i #Ponent, sou #Lleidatanament grans! #LlibertatPresosPolítics pic.twitter.com/vjokDiZMKk— Postureig de Lleida (@PostureigLleida) November 8, 2017
Vilanova i la Geltrú:
I de nou la plaça plena i de nou la democràcia no hi és a les institucions, està al carrer. Vilanova i la Geltrú amb la #VagaGeneral8N per exigir #LlibertatPresosPolítics pic.twitter.com/QPxn4AWujx
— Enver Aznar (@EnverAzMe) November 8, 2017
Vilafranca:
Vilafranca #VagaGeneral8N pic.twitter.com/koaWsVTEwX
— Ésser 🍂🍁 (@un_esser) November 8, 2017
Manresa:
#VagaGeneral8N LLIBERTAT!!! Manresa. pic.twitter.com/eoxQVNBdgU
— Miquel Leon i Pardo (@miqueleo) November 8, 2017
O dia foi encerrado com o levantamento final dos principais bloqueios de estradas. A fronteira com a França, em Puigcerdà, não voltou a ser aberta até esta manhã. Para as dezenas de milhares que participaram nas ações, este foi um dia muito longo, mas no qual a ideia do poder das massas mobilizadas dominava a mente de todos.
#EnMoviment El @CDRepublicaVic informa que s'acaba de decidir en assemblea aixecar el tall de Puigcerdà després de més de 24 hores de fred i neu i d'una jornada de vaga amb totes les fronteres tancades. Ha estat l'últim tall en aixecar-se pic.twitter.com/IDU9uge4uc
— Setembre (@elsetembre) November 9, 2017
Os Comitês de Defesa da República demonstraram sua força e capacidade de organização em um dia em que eles, junto aos sindicatos pequenos, foram os que mais se envolveram na mobilização. Esse é um passo à frente muito importante.
Toda a atenção centra-se agora na manifestação do sábado em Barcelona, convocada pela ANC e Omnium, que esperam que seja de tamanho similar à dos grandes atos do Dia Nacional Catalão, nos quais entre 1 a 2 milhões de pessoas se manifestaram nos últimos 5 anos.
A repressão estatal não deteve o movimento por uma república catalã; pelo contrário. Enquanto a maioria dos líderes políticos se concentra na questão de como proceder diante das eleições catalãs de 21 de dezembro (convocadas através do Artigo 155 que dissolveu o parlamento catalão), as massas nas ruas demonstraram mais uma vez sua vontade de lutar. Agora, as massas têm uma ferramenta própria: os CDR.
Artigo publicado em 9 de novembro no site da Corrente Marxista Internacional, sob o título “Catalonia: November 8 general strike sees CDRs take centre stage“.
Tradução Fabiano Leite.