Na última semana veio a público uma divergência no debate sobre a constituição da frente de partidos de esquerda nas eleições municipais em Florianópolis. Essa frente inclui partidos como PCdoB, REDE, PDT, PSB e UP. Em nota pública, o PT denunciou que teria sido acordado que a futura chapa a disputar a prefeitura de Florianópolis seria encabeçada por Elson Pereira, do PSOL, e teria como vice Janaína Deitos, indicada pelo PCdoB. Esse debate mostra a política equivocada e a adaptação eleitoreira da direção do PSOL.
Em primeiro lugar, por desnudar a forma como tem sido realizado o debate sobre a constituição da frente de esquerda. Embora PSOL, PT e PCdoB tenham suas bases no movimento de trabalhadores e da juventude, esses setores estão excluídos da discussão, que está limitada a conversas entre as lideranças dos partidos. Esses partidos mostram-se integrados à democracia burguesa, a tal ponto que utilizam dos mesmos métodos da direita, com conchavos e acordos espúrios, para fazer seus debates.
Contudo, essa nem é a pior parte. PSOL, PT e PCdoB, por conta de sua história, ainda podem se reivindicar como parte da tradição de esquerda. Contudo, entre seus aliados encontram-se PSB, PDT e Rede, partidos que representam os interesses da burguesia. O PSOL, apesar disso, ao mesmo tempo que defende publicamente a permanência do PT na frente eleitoral, faz todo tipo de elogios a essa aliança ampla, alegando que ela é necessária para derrotar Gean Loureiro (DEM) e o bolsonarismo.
Não custa lembrar que a maior parte dos parlamentares do PSB, que anos atrás abriu as portas para os oligarcas da família Bornhausen, votaram a favor do impeachment de Dilma, assim como deputados da Rede e até mesmo do PDT. Ou que o deputado Bruno Souza, ligado ao MBL, atualmente no Novo, há quatro anos foi eleito vereador pelo PSB em Florianópolis. Ou que Janaína Deitos foi candidata a vereadora na última eleição pelo PPL (partido que se fundiu ao PCdoB para garantir o fundo eleitoral) na coligação que apoiou Gean Loureiro. Outros dados poderiam ser apresentados, mas o fato é que essa ampla unidade expressa a política de articulação nacional com setores da burguesia que inclui, além de lideranças do PSOL e de outros partidos de esquerda, nomes como Luciano Huck e Fernando Henrique Cardoso.
Mesmo os partidos com tradição de esquerda mostram incoerência com sua própria história, como se viu nos anos do PT na presidência, em que atacou direitos dos trabalhadores, ao mesmo tempo que governou para burgueses e banqueiros. Em Santa Catarina ou mesmo em Florianópolis, PT e PCdoB, eleição após eleição, apoiaram os diferentes bandos burgueses, como a aliança do PT com Luiz Henrique (PMDB) no primeiro governo Lula ou a participação do PCdoB no governo Colombo (PSD), além da sua permanente aproximação com a família Amim (PP).
Seja a esquerda reformista, materializada no PT e no PCdoB, sejam os setores da direita pretensamente progressistas, como PSB, PDT e Rede, todos esses partidos mostram que seu objetivo é defender a manutenção da ordem burguesa. Por isso, suas alianças variam de acordo com as oportunidades, mostrando que, para todos esses partidos, o mais importante é ocupar postos em governos e no parlamento. Em Florianópolis essas legendas enxergam na possível eleição de Elson, que obteve excelente votação nas últimas duas eleições para a prefeitura da capital (com 20% dos votos, ficou em terceiro lugar, à frente de Ângela Albino, do PCdoB, em 2016), a possibilidade de chegar ao governo da cidade, garantindo cargos em secretarias ou mesmo o de vice-prefeito.
Por isso, não caberia ao PSOL, que foi construído para formar um polo socialista e independente, que defende os interesses dos trabalhadores e da juventude, participar desses acordos ou articular alianças com setores da burguesia. Se Elson e o PSOL vêm tendo excelentes votações em Florianópolis (no último pleito presidencial, Boulos obteve proporcionalmente sua maior votação na capital catarinense, além de o partido ter eleito três vereadores em 2016), se deve justamente ao fato de se diferenciarem dos políticos tradicionais da cidade. Essa aliança que vem sendo construída há mais de um ano com partidos burgueses e reformistas coloca em risco o espaço político conquistado na cidade pela militância do PSOL.
Nesse sentido, a continuidade das conversações sobre uma frente supostamente de esquerda com políticos fisiológicos e inimigos dos trabalhadores mostra o processo em curso de adaptação do PSOL à institucionalidade burguesa. O caminho para o PSOL é mobilizar a base dos trabalhadores e da juventude e, como parte das lutas concretas, construir uma candidatura que represente os interesses dos setores mais explorados, expressando no seu arco de alianças e em seu programa uma perspectiva socialista e de transformação da sociedade.