Repercutiu na imprensa nos últimos dias a participação de Lula na 15ª Cúpula do Brics, ocorrida na África do Sul, entre os dias 22 e 24 de agosto. O encontro reuniu um conjunto de países autodenominados “emergentes”, usando uma retórica que busca mostrar uma “multipolaridade” inexistente. Parte da grande imprensa destacou a presença de “ditaduras” na cúpula, enfatizando especialmente o papel da China e da Rússia, mas não foi assim que se referiu à ditadura monárquica assassina da Arábia Saudita.
O referido grupo econômico, cuja primeira cúpula foi realizada em junho de 2009, se reuniu num contexto marcado pela guerra entre Rússia e Ucrânia e pela crescente tensão política e comercial entre China e Estados Unidos. Lula, representando o Brasil e se colocando como um líder dos países da América Latina, procurou vender a imagem pouco convincente de uma postura crítica ou mesmo de autonomia em relação ao imperialismo. Em suas redes sociais, afirmou Lula: “O Brics continuará sendo força motriz de uma ordem mundial mais justa e ator indispensável na promoção da paz, do multilateralismo e na defesa do direito internacional. Promoveremos a superação de todas as formas de desigualdade e discriminação”.
Da parte da grande imprensa, o que mais repercutiu foi a adesão ao bloco de novos países. O encontro decidiu pela adesão de Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, que serão parte do Brics a partir de 1 de janeiro de 2024. Esses países se somam a Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. Essas novas adesões podem significar uma expansão política e comercial da China, líder do bloco, mas, ao mesmo tempo, aprofundam sua heterogeneidade.
Na retórica do governo Lula, o Brics é uma iniciativa que busca ser uma alternativa aos países imperialistas e, com isso, vislumbra a possibilidade de que possam, por meio da cooperação mútua, se desenvolver economicamente. Contudo, sabe-se há mais de um século que essa é uma ilusão vendida pelas burguesias dos países dominados pelo imperialismo. Trotsky afirmava que o imperialismo “se converteu no obstáculo principal para o progresso econômico e político”, ao espoliar “a riqueza natural dos países atrasados e restringindo deliberadamente seu desenvolvimento industrial independente” (O marxismo e a nossa época, 1939). Essa dominação se traduz na organização política dos países, criando uma relação de dominação econômica, ainda que haja uma independência política formal. Em sua obra clássica sobre o imperialismo, afirmava Lênin:
“(…) o capital financeiro e sua política internacional correspondente, que se traduz na luta das grandes potências pela partilha econômica e política do mundo, criam um sem-número de formas transitórias de dependência estatal. Para essa época, são típicos não só os dois grupos fundamentais de países – os que possuem colônias e as colônias -, mas também as diversas formas de países dependentes que, politicamente, formalmente, são independentes, mas, na prática, estão emaranhados nas teias da ‘dependência’ financeira e diplomática” (Imperialismo, estágio superior do capitalismo, 1917).
Os primeiros governos de Lula, mesmo no auge econômico do crescimento do PIB da China, não foram além de negociar melhores condições para a venda de commodities. Para começar a discutir qualquer possibilidade de independência política e desenvolvimento econômico, o primeiro passo é parar de pagar a dívida e garantir os recursos necessários para desenvolver a indústria e a ciência. Contudo, nem mesmo essa limitada perspectiva nacionalista está no horizonte das classes dominantes e do governo de unidade com a burguesia encabeçado por Lula, que deixou claro seu compromisso com a dívida na aprovação do arcabouço fiscal.
Somente a unidade dos trabalhadores poderá levar ao desenvolvimento da sociedade, garantindo não apenas emprego e renda para todos, mas também cultura e uma verdadeira liberdade. Somente uma revolução socialista e a luta pelo comunismo poderá colocar no horizonte transformações reais na sociedade.