No dia 8 de março uma grande marcha tomou as ruas do Chile, como parte das mobilizações do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. Os organizadores afirmam que cerca de dois milhões de pessoas marcharam em Santiago, chegando a 3,5 milhões em todo o país. Parte dessa mesma mobilização, para o dia 9 de março também foi convocada uma jornada de “Greve Geral Feminista” pelo Comitê de Coordenação Feminista 8M.
Poucos dias antes, na sexta-feira (6/3), depois do fim das férias escolares, foram retomadas as mobilizações que vinham ocorrendo desde o dia 18 de outubro do ano passado. Nesse protesto, 35 pessoas foram detidas e 75 policiais ficaram feridos, além da morte de um homem de 43 anos.
Os protestos iniciados em outubro passado tiveram como causa inicial o aumento da tarifa do metrô. Essas reivindicações imediatas trouxeram à tona as consequências do processo de exploração a que a classe trabalhadora chilena vem sendo submetida. As reivindicações rapidamente se voltaram contra o modelo socioeconômico do Chile, herdado da sanguinária ditadura de Augusto Pinochet.
Um dos aspectos que mais chamaram a atenção foi a duríssima repressão promovida pelo governo contra os trabalhadores e a juventude em luta. Segundo dados divulgados em novembro, apenas um mês após o início dos protestos, havia 442 denúncias criminais contra agentes do Estado, sendo relatados 1.500 ferimentos provocados por balas de todos os tipos, além de 223 casos em que manifestantes tiveram “traumas oculares” depois de terem sido alvejados nos olhos, deixando 33 cegos. O número de mortos pela repressão passa de 40 pessoas.
Outro aspecto fundamental do processo político chilena são as traições das principais direções e da maior parte da esquerda. O Bloco Sindical de Unidade Social anunciou o seu apoio às mobilizações de 8 e 9 de março, sem estabelecer nenhuma ação concreta, se limitando a um apelo de solidariedade geral. Para o 11 de março, anunciaram uma vergonhosa greve às 11 horas durante 11 minutos.
Os setores em mobilização constituíram uma Mesa de Unidade Social, agrupando centenas de organizações sociais e de trabalhadores, levando à convocação da grande greve geral de 12 de novembro. Contudo, diante do “Acordo pela Paz e pela Nova Constituição”, no dia 15 de novembro, entre o governo e a maior parte dos partidos da oposição, a Unidade Social foi apagando cada vez mais o seu papel na oposição ao governo, sem nunca chegar a colocar de forma séria a demanda popular pelo “Fora Piñera”.
Como parte desse grande acordo entre os partidos, os chilenos serão chamados a participar de um plebiscito convocado para o dia 26 de abril, para decidir se mudam ou não a Constituição do país. O acordo reuniu a maior parte dos partidos de esquerda, com exceção do Partido Comunista, mas que pouco depois confirmou que participará do plebiscito.
O acordo busca canalizar para dentro das instituições do Estado burguês a luta dos trabalhadores, prometendo resolver os problemas enfrentados pelos trabalhadores e pela juventude a partir da tutela do Congresso, sem tocar nos privilégios dos capitalistas. Não estarão em pauta temas como a Administradoras de Fundos de Pensão, os negócios privados na saúde e na educação e muito menos o respeito às liberdades democráticas ou mesmo a libertação dos mais de mil presos políticos.
O processo revolucionário continua em aberto no Chile. As fortes mobilizações realizadas nos últimos meses mostram uma grande disposição de luta dos trabalhadores e da juventude. Uma grande greve nacional deve ser organizada pelos trabalhadores, colocando na ordem do dia a derrubada não apenas do governo, como também o fim da exploração capitalista. Diante do acordo por uma constituinte da burguesia, é preciso defender uma Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora. No Chile, como em outros países, é preciso construir uma direção revolucionária de massas, que esteja disposta a enfrentar a ordem burguesa e o capitalismo.