Imagem: Roberto Fiadone, Wikimedia Commons

Accenture e a demissão em massa de 11 mil trabalhadores: a lei geral da acumulação descrita por Marx em ação

A consultoria global Accenture anunciou planos de desligar funcionários que não se requalificarem em inteligência artificial (IA), um fato que, à primeira vista, é apresentado como uma mera necessidade de mercado e de adaptação tecnológica. A CEO da empresa, Julie Sweet, enquadra a decisão como parte de uma estratégia de “capacitação” e um “programa de otimização de negócios” de US$ 865 milhões, com o objetivo de gerar uma economia de mais de US$ 1 bilhão para ser reinvestida. A justificativa é clara: à medida que a IA avançada se torna “parte de tudo o que fazemos”, aqueles para quem a requalificação não é “um caminho viável” serão dispensados em um “cronograma comprimido”.

A desculpa apresentada pela executiva é a de que as demissões são um ajuste necessário à “forte demanda de clientes para implementar IA” e ao crescimento do setor. É uma tentativa de legitimar o movimento dos patrões. Assim como a demissão em massa nas Big Techs foi justificada por uma suposta “aposta errada” na contratação exagerada durante a pandemia, a Accenture utiliza a retórica da inovação tecnológica para mascarar a verdadeira natureza de classe por trás de sua decisão.

A análise concreta da realidade rejeita a superficialidade dessa justificativa. A decisão da Accenture não é um erro de cálculo nem uma simples resposta ao mercado, e sim uma manifestação concreta da lei geral da acumulação capitalista, tal como analisada por Karl Marx na obra “O Capital”.

O crescimento de 7% na receita reportada pela Accenture demonstra que a empresa prospera, impulsionada pela demanda por IA. O capital global aumenta e, com ele, a busca incessante por uma taxa de lucro cada vez maior. A IA, enquanto progresso técnico, cumpre um papel fundamental de aumentar a força produtiva do trabalho e, consequentemente, acelerar a acumulação de capital para os capitalistas.

No setor de tecnologia, a hora de trabalho do proletário é considerada tradicionalmente mais “cara”; por isso, as demissões em massa, a ameaça de desligamento para aqueles que não se adaptarem a uma nova intensificação da carga de trabalho (IA) servem a um propósito sistêmico: o de pressionar os salários para baixo (falamos sobre isso anteriormente). A reestruturação da força de trabalho da Accenture, embora vista como “reinvestimento” pela diretoria, é, em sua essência, uma manobra para garantir uma maior fatia de mais-valia, que é o trabalho não pago extraído do trabalhador.

A produção do que Marx chama de exército industrial de reserva, feita com a demissão daqueles para quem a requalificação não é “viável”, tem um duplo efeito: eles engrossam as fileiras do exército industrial de reserva, a massa de desempregados que pressiona os salários dos ocupados para baixo, e, ao mesmo tempo, forçam os trabalhadores restantes a se submeterem ao sobretrabalho, ou seja, à intensificação da jornada para se “requalificarem” e manterem seus empregos.

A decisão da Accenture de cortar o pessoal não adaptado é a demonstração de que “o movimento da lei da demanda e oferta de trabalho completa, sobre essa base, o despotismo do capital”. Em última análise, a tecnologia e o crescimento de receitas estão sendo utilizados não para o benefício coletivo, mas como instrumentos de intensificação da exploração, para garantir a contínua valorização do capital.

Diante dessa denúncia da lógica capitalista que opera na Accenture, a tarefa dos trabalhadores é clara. A luta pela manutenção de empregos e pela melhoria das condições de trabalho não pode se basear na aceitação da “sagrada lei da oferta e demanda”.

É necessária uma cooperação organizada entre empregados e desempregados, nos moldes das lutas históricas vitoriosas, para barrar a desvalorização do salário e a pressão do capital. A classe produtora de tecnologia precisa se organizar para expropriar a classe burguesa e controlar a tecnologia e a economia, programando um futuro em que a preocupação central não seja a sobrevivência, e sim o avanço da liberdade humana.

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